As forças separatistas armênias de Nagorno Karabakh e o exército do Azerbaijão intensificaram neste domingo, no oitavo dia de combates, os disparos de artilharia, em particular em Stepanakert, a capital separatista, e em Ganja, a segunda maior cidade do Azerbaijão.
Os dois lados insistiram nas declarações bélicas, ignorando os apelos por uma trégua da maior parte da comunidade internacional e com uma troca de acusações sobre a responsabilidade do conflito.
Desde sexta-feira, Stepanakert, a principal cidade de Nagorno Karabakh, é alvo de ataques que obrigam a população a procurar abrigos. Neste domingo a cidade estava sem energia elétrica.
Os ataques com foguetes foram retomados com intensidade na localidade e as sirenes eram ouvidas de modo incessante.
O centro e a periferia foram afetados e era possível observar a fumaça negra no céu.
Os moradores se esconderam em refúgios como a cripta de uma igreja, onde várias famílias aguardavam num ambiente de resignação.
“As forças azerbaijanas estão apontando para alvos civis”, disse o porta-voz do ministério da Defesa da Armênia, Arstroun Hovhannissian.
As autoridades locais citaram disparos de sistemas de lança-foguetes múltiplos Smerch e Polonez. Drones sobrevoavam a cidade.
O presidente da autoproclamada república, Arayk Harutyunyan, anunciou que, em represália, as forças de Nagorno Karabakh passariam a atacar as infraestruturas militares das grandes cidades do Azerbaijão, mais distantes da frente de batalha, e pediu aos civis que “abandonem imediatamente estas cidades”.
Pouco depois, o ministério da Defesa do Azerbaijão anunciou que a segunda maior cidade do país, Ganja, estava “sob o fogo das forças armênias”.
Baku acusou Yerevan pelos ataques, mas o governo armênio negou.
O porta-voz da presidência de Karabakh, Vagram Pogossian, afirmou que os ataques eram separatistas e que o aeroporto militar foi “destruído”. “Este é apenas o primeiro”, disse.
O governo da Turquia, que apoia o Azerbaijão, condenou o que considerou ataques da Armênia contra civis na cidade de Ganja.
O Azerbaijão também informou ataques com foguetes contra “as cidades de Terter e Horadiz, na região de Fizuli, a partir de Stepanakert”.
Os dois lados reivindicam avanços em vários setores da batalha.
No sábado, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, reafirmou que apenas uma retirada das forças armênias dos “territórios ocupados” poderia acabar com o conflito iniciado nos anos 1990.
O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, disse que o país enfrenta “talvez o momento mais decisivo de sua história” e fez um apelo de mobilização para a “vitória”.
Nagorno Karabakh, uma região habitada principalmente por armênios, anunciou a secessão do Azerbaijão após o colapso da União Soviética, o que provocou uma guerra que deixou 30.000 mortos no início dos anos 1990.
O front está virtualmente congelado desde então, apesar dos confrontos frequentes.
As partes trocam acusações sobre a retomada das hostilidades em 27 de setembro, uma das crises mais graves desde o cessar-fogo de 1994, o que provoca o temor de uma guerra aberta entre Armênia e Azerbaijão.
O balanço do confronto é parcial porque Baku não divulga suas baixas militares. Até o momento foram registadas 245 mortes: 209 combatentes separatistas, 14 civis de Karabakh e 22 civis azerbaijanos.
Cada lado, no entanto, alega que matou mais de 2.000 soldados do campo adversário.
Uma guerra aberta entre as duas ex-repúblicas soviéticas do Cáucaso Sul provoca o receio de uma desestabilização em larga escala que poderia implicar várias potências: Rússia, árbitro regional tradicional, Turquia, aliada do Azerbaijão, Irã e os países ocidentais.