As Nações Unidas bloquearam nesta terça-feira (25) um polémico mecanismo com o qual os Estados Unidos pretendiam reativar as sanções internacionais contra o Irão, após o Conselho de Segurança declarar que não poderá prosseguir com questionada manobra.
A presidência do Conselho, exercida desde agosto pela Indonésia, “não está em posição de tomar qualquer ação adicional” sobre o pedido de Washington, afirmou o embaixador indonésio Dian Triansyah Djani.
Em uma videoconferência sobre o Médio Oriente, ele mencionou a falta de consenso na mais alta entidade da ONU sobre a estratégia americana como a principal razão para a negativa.
O governo Trump acusa Teerão de descumprir os termos do histórico acordo nuclear, assinado em 2015, e exige que o Conselho de Segurança reative as sanções contra a República Islâmica.
Washington insiste em seus direitos legais de ativar o mecanismo questionado, denominado “snapback”, apesar de ter se retirado do acordo há dois anos.
A manobra ameaça solapar o acordo com o Irão e mergulhar o Conselho de Segurança numa crise, aprofundando o abismo entre os Estados Unidos e quase todos os outros países-membros a respeito da política sobre o Irão.
Treze dos 15 países-membros do Conselho escreveram à presidência indonésia para refutar sua validade.
Os Estados Unidos “estão sozinhos” na sua abordagem, e “seu objetivo final é destruir o acordo nuclear, quando eles já impuseram sanções (nacionais) ao Irão”, disse um diplomata, que falou com a AFP com a condição de manter sua identidade preservada.
Outro disse que, com o repúdio majoritário ao projeto americano por quase todo o Conselho, “normalmente a questão está encerrada”.
Mas os Estados Unidos não veem desta forma.
“Nós lembramos aos membros do nosso direito, segundo a Resolução 2231, de ativar o ‘snapback’ e nossa firme intenção de fazê-lo na ausência de coragem e clareza moral do Conselho”, declarou a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Kelly Craft.
Anteriormente, Washington havia acusado os membros do Conselho de “se alinharem aos aiatolás”.
O recurso ao mecanismo, nunca utilizado antes, veio depois de os Estados Unidos sofrerem uma derrota humilhante no Conselho de Segurança no mês passado, quando o país falhou em reunir apoio para uma resolução com vistas a estender um embargo de armas convencionais ao Irão.
Segundo o acordo de 2015, no qual sanções contra o Irão foram suspensas em troca de sua concordância em não desenvolver armas nucleares, uma notificação de que Teerão rompeu seu compromisso precisa a princípio ser seguida de um projeto de resolução pela presidência do Conselho de Segurança.
A exclusão desta opção pela Indonésia foi comemorada nesta terça-feira pela maioria dos membros do Conselho e pelo Irão.
O pedido americano “não tem valor e nem efeito legal e, portanto, é totalmente inadmissível”, reagiu a missão iraniana na ONU num comunicado de imprensa.
De acordo com diplomatas, Washington poderia agora avançar até apresentar seu próprio projeto de resolução, abrindo a via para mais confusão.
Neste caso, segundo um embaixador, os oponentes no Conselho poderiam se abster de votar.