A organização não-governamental (ONG) Comité para o Jubileu da Dívida (CJD) calculou hoje que os pagamentos de dívida pública dos países em desenvolvimento tenham aumentado 115% entre 2010 e 2020, atingindo o nível mais elevado deste século.
“Os pagamentos de dívida já estavam a aumentar mesmo antes da pandemia da covid-19, e a crise causou recessões, abrandou o crescimento económico e aumentou as taxas de juros, o que está a tornar o peso dos pagamentos da dívida ainda piores”, lê-se numa nota enviada à Lusa, na qual se aponta que os pagamentos de dívida chegaram a 14,3% da receita dos governos este ano, aumentando face aos 6,7% registados em 2010.
“Os números deverão ser piores que os apresentados, já que os dados do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial [nos quais se baseiam os cálculos do CJD] não levam em conta na totalidade o impacto da crise do novo coronavírus nas receitas e nos níveis de pagamento da dívida”, alertam os ativistas, que defendem um alívio da dívida dos países mais fragilizados.
“A nossa última análise mostra que 52 países a nível global já estão numa crise de dívida, o que significa que os pagamentos estão a minar a capacidade dos governos protegerem os direitos básicos económicos e sociais dos seus cidadãos, havendo mais 22 países em crise agora do que em 2018”, o último ano em que o CJD fez estes cálculos.
Para além dos 52 países já em crise de dívida, entre os quais os lusófonos Angola e Moçambique, o CJD alerta que “há mais 24 países em risco de uma dívida quer privada, quer pública, 32 em risco de apenas uma crise do setor privado, e sete apenas em risco de crise de dívida do setor público”.
A situação “está a deteriorar-se rapidamente, os pagamentos de dívida dos países pobres estão ao nível mais alto dos últimos 20 anos, e o peso da dívida está a usar dinheiro que é muito necessário para ser usado na proteção social e na saúde mesmo antes da crise da covid-19”, comentou a diretora do CJD, Sarah-Jayne Clifton.
“Precisamos de ação urgente para cancelar os pagamentos e reduzir a dívida para níveis sustentáveis, e organizar os empréstimos irresponsáveis para fazer com que as crises de dívida voltem para nos assombrar todas as décadas”, acrescentou.
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 770.429 mortos, incluindo 1.778 em Portugal, e infetou mais de 21,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.