Sexta-feira, 26 de Abril, 2024

Mali designa gabinete para formar governo de união nacional

O presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, constituiu nesta segunda-feira (27) um gabinete limitado para negociar a formação de um governo de união nacional, conforme as recomendações de uma cúpula extraordinária da África ocidental, que ameaçou quem se opuser com sanções.

Os 15 chefes de Estado da Comunidade Econômica da África Ocidental (CEDEAO), reunidos em videoconferência, exortaram o Mali à “união sagrada” para resolver a crise que abala o país desde junho.

O chefe de Estado maliense anunciou à noite, em decreto lido pela secretária-geral da Presidência, Kamissa Camara, a formação imediata, em torno do primeiro-ministro, Boubou Cisée, de uma equipe “ministerial restrito, cuja missão é negociar com as partes interessadas e com vistas à formação de um governo de união nacional capaz de contribuir para acalmar a situação”.

Vários pesos-pesados do gabinete anterior, que se demitiu após as legislativas de março-abril, mantêm seus postos: Tiébilé Dramé como chefe da diplomacia, o general Ibrahim Dahirou Dembélé na Defesa, Boubacar Al´ha Bah na administração territorial.

O advogado e persanalidade política Kassoum Tapo assumirá o ministério da Justiça e o general de divisão Bemba Moussa Keita será o ministro da Segurança.

O poder fez um gesto à oposição, ao nomear para a pasta de Economia e Finanças um ex-banqueiro, Abdoulaye Daffé, considerado próximo ao mentor da principal personalidade dos protestos, o imã Mahmoud Dicko.

Os chefes de Estado da região, que temem uma desestabilização do Mali, epicentro da ameaça jihadista no Sahel, apoiaram os esforços de mediação feitos há semanas pela CEDEAO, informou seu presidente em exercício, o presidente nigerino Mahamadu Issufu.

E pela primeira vez, falaram em um “regime de sanções” contra “aqueles que realizarem atos contrários ao processo de normalização”, afirmou Issufu, segundo uma cópia de seu discurso ao final da reunião, que durou cerca de três horas.

Os membros do Conselho de Segurança da ONU acentuaram a pressão e exigiram que todas as partes “sigam estas recomendações sem demora”, após expressar sua “profunda preocupação”.

A este clima de exasperação, alimentado há anos pela instabilidade no centro e no norte do país, a crise econômica e a corrupção considerada endêmica, somou-se a anulação, pelo Tribunal Constitucional, de cerca de 30 resultados nas legislativas de março e abril, vistas como um desencadeador da situação atual.

– Legislativas parciais –

Os chefes de Estado da África ocidental, que em sua maioria apoiam o presidente Ibrahim Boubacar Keita, pediram para que se faça “tudo o possível” para se conseguir a “demissão imediata dos 31 deputados cuja eleição foi questionada, inclusive o presidente do Parlamento”, Moussa Timbiné.

Estas demissões abririam a via a legislativas parciais.

A cúpula pediu, ainda, uma “recomposição rápida do Tribunal Constitucional” e defendeu a formação de um “governo de união nacional com a participação da oposição e da sociedade civil”, excluindo uma saída forçada de Keita, em respeito às regras constitucionais comuns à CEDEAO.

Sobretudo defendeu a formação de um “governo de união nacional com a participação da oposição e da sociedade civil” e exclui uma saída forçada de Keita.

Os líderes da oposição no Mali, cuja figura principal é o influente imã Mahmud Dicko, rejeitaram até o momento se unir a este governo, destacando que os problemas superavam as simples questões eleitorais.

Apesar destas reticências, a CEDEAO “incentiva” o Movimento de 5 de Junho, que lidera o protesto, a “participar deste Executivo com um espírito de patriotismo”.

Em 10 de julho, a terceira grande manifestação da oposição resultou em três dias de distúrbios, que deixaram 11 mortos em Bamako, segundo o primeiro-ministro Bubu Cissé, embora a Missão da ONU no país (MINUSMA) tenha contabilizado 14 falecidos.

A cúpula da CEDEAO pediu uma investigação para determinar a responsabilidade destes distúrbios, que a oposição atribui aos membros de uma força antiterrorista especial, sem ter fornecido provas.

“A união sagrada” dos malienses é indispensável para evitar um colapso do Estado de consequências imprevisíveis no país, em seus vizinhos Níger e Burkina Faso, também cenário de atentados jihadistas mortais, “e incluso além”, informou Issufu.

– Fim da trégua –

O movimento de protesto M5-RFP, uma coalizão heterogênea integrada por clérigos, opositores políticos e membros da sociedade civil, anunciou em 21 de julho uma “trégua” até o fim da grande festa muçulmana do Eid al Adha, em 31 de julho.

Mas os jovens do movimento, ponta de lança dos protestos contra Keita – eleito em 2013 e reeleito em 2018 -, pediram novamente no domingo a demissão do chefe de Estado e anunciaram a retomada das manifestações em 3 de agosto.

Enquanto isso, a violência continuava fora da capital. O corpo do prefeito de uma comuna na região de Tombuctu, no norte do país, foi encontrado “crivado de balas” no fim de semana, cerca de dez dias depois de ter sido sequestrado por homens armados.

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