A Rússia prometeu hoje um firme apoio ao Irão contra as potências ocidentais e considerou “ilegais” e “ilegítimas” as tentativas dos EUA e do Conselho de Segurança da ONU de prolongar o embargo à venda de armas a Teerão, que expira em outubro.
Moscovo também se pronunciou sobre a crispação das relações entre o Irão e a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), com o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, ao considerar que “existem desenvolvimentos atuais em Viena [sede da AIEA] e ideias que os nossos amigos ocidentais deixam flutuar em Nova Iorque”, onde está sediado o Conselho de Segurança da ONU.
Durante uma conferência de imprensa conjunta e no início de conservações em Moscovo com o seu homólogo iraniano Mohammad Javad Zarif, o chefe da diplomacia do Kremlin referiu-se a uma “situação preocupante”, e assegurou que “nos oporemos firmemente a qualquer tentativa de utilizar esta situação para manipular o Conselho de Segurança e promover um programa anti-iraniano”.
Nas suas declarações e exprimindo-se em inglês, Lavrov também se insurgiu contra as pretensões ocidentais destinadas a “punir o Irão através de iniciativas ilegítimas e absolutamente ilegais”.
Por seu turno, Zarif afirmou que o acordo nuclear de 2015 assinado com o Irão regista “perigosos desenvolvimentos”, e quando já se encontrava em desintegração na sequência da retirada dos Estados Unidos em 2018.
A AIEA está reunida desde segunda-feira em Viena para debater, entre outros assuntos, uma proposta de resolução dirigida à República Islâmica, submetida pela Alemanha, França e Reino Unido.
O texto pretender recordar ao país as suas obrigações de cooperação com este organismo de monitorização e quando Teerão recusa desde há vários meses o acesso a dois locais suspeitos de terem promovido no passado atividades nucleares não declaradas. Este desacordo tem aumentado as preocupações sobre o futuro do acordo nuclear de 2015.
“Não permitiremos que a AIEA se torne num instrumento nefasto para quem pretende destruir o Acordo nuclear de 2015 e para os que se opõem às organizações internacionais”, declarou Zarif após o encontro, acrescentando que o Irão coopera de “forma transparente” com a AIEA.
Lavrov também frisou que “mesmo que a administração americana considere mau este acordo, não tem o direito de punir o Irão”, e antes de acusar os Estados Unidos de “manipularem” o Conselho de Segurança da ONU.
“Faremos tudo para que ninguém consiga destruir estes acordos”, acrescentou Lavrov na conferência de imprensa.
No final de maio passado os Estados Unidos puseram termo às derrogações que autorizavam projetos nucleares civis iranianos, o último vestígio do acordo nuclear. O Irão, asfixiado pelas sanções ocidentais, já ripostou após a retirada dos EUA do Acordo, ao renunciar a diversos dos seus compromissos.
Em paralelo, Lavrov também denunciou as tentativas dos EUA no Conselho de Segurança de prolongar o embargo às armas contra o Irão, que termina em outubro próximo, considerando-a uma estratégia “inútil”, numa alusão ao facto de a Rússia e a China possuírem direito de veto no Conselho e se oporem à extensão do embargo.
Lavrov enviou uma carta ao secretário-geral da ONU, António Guterres para sublinhar, entre outras questões, a ausência de uma base para discutir o prolongamento do embargo às armas contra o Irão no Conselho de Segurança, algo que Zarif agradeceu hoje.
O chefe da diplomacia russa explicou que ainda não recebeu uma resposta de Guterres, nem da presidência do Conselho de Segurança, a quem também enviou o mesmo documento de cinco páginas que inclui “uma reflexão importante” sobre esta questão.