O presidente do Burundi, Pierre Nkurunziza, morreu na segunda-feira, aos 55 anos, alegadamente na sequência de uma “paragem cardíaca”, anunciou hoje, em comunicado, o governo do país.
“O Governo da República do Burundi anuncia com grande tristeza morte de Pierre Nkurunziza, Presidente da República do Burundi, que morreu inesperadamente na sequência de uma paragem cardíaca”, refere o comunicado.
A mesma fonte adianta que o chefe de Estado foi internado num hospital durante a noite de sábado, depois de se ter sentido mal, pareceu melhorar no domingo, mas “para grande surpresa” piorou “abruptamente” na segunda-feira de manhã, não tendo sido possível reanimá-lo.
O Governo do Burundi declarou uma semana de luto.
A morte de Nkurunziza acontece semanas antes de o candidato do partido no poder, Evariste Ndayishimiye, ser empossado como chefe de Estado depois de ter vencido as eleições de maio.
Apesar do comunicado, no Burundi há suspeitas de que Nkurunziza teria morrido de covid-19.
“Quando a mulher de Nkurunziza foi enviada de avião para o Quénia, vítima da covid-19, muitos no Burundi suspeitavam que o próprio Presidente estava doente”, disse Justin Nyabenda, um residente em Bujumbura, citado pela agência Associated Press.
O governo minimizou a pandemia e promoveu a realização de eleições e grandes comícios de campanha apesar dos riscos de propagação da doença.
As autoridades expulsaram os funcionários da Organização Mundial de Saúde do país poucos dias antes das eleições, depois de a OMS ter manifestado a sua preocupação com as multidões nos comícios eleitorais.
O país tem oficialmente 83 casos de infeção pelo novo coronavírus.
Nkurunziza tomou posse em 2005, depois de ter sido escolhido pelo parlamento para liderar o país na sequência da guerra civil de 1993-2005, que matou cerca de 300.000 pessoas.
O processo de paz conhecido por Acordos de Arusha especificava que o mandato de um presidente só podia ser renovado uma vez, mas Nkurunziza, que ganhou um segundo mandato em 2010, anunciou que era elegível para um terceiro mandato em 2015 porque no primeiro termo não tinha sido eleito por sufrágio universal.
O Burundi vive uma grave crise política desde as eleições de 2015, de que já resultaram pelo menos 1.200 mortos e mais de 400 mil refugiados, acontecimentos alvo de uma investigação do Tribunal Penal Internacional.
A violência foi desencadeada pela contestação ao possível terceiro mandato de Pierre Nkurunziza, considerado inconstitucional pela oposição.
O chefe de Estado surpreendeu, no entanto, ao anunciar, em junho de 2018, que não se recandidataria, apesar de a nova Constituição, aprovada por referendo nesse mesmo ano, lhe permitir ficar até 2034 no poder.
Nkurunziza sobreviveu a uma tentativa de golpe de estado pouco depois da votação de 2015.
O Burundi realizou a 20 de maio eleições presidenciais que foram ganhas por Evariste Ndayishimiye, candidato apoiado por Pierre Nkurunziza.
Os resultados eleitorais foram contestados pelo líder da oposição e candidato que ficou em segundo lugar, Agathon Rwasa, mas o Tribunal Constitucional do Burundi confirmou em 04 de junho a votação e rejeitou as queixas de irregularidades apresentadas por Rwasa.
O tribunal confirmou a vitória do candidato do partido no poder, Evariste Ndayishimiye, com 68% dos votos, tendo Rwasa recebido 28%.
Com a sua saída da presidência Nkurunziza receberia o título de “Líder Supremo”, com vários analistas a admitirem que continuaria a exercer o poder nos bastidores.