Pelo menos dez pessoas, incluindo um líder do tráfico de droga, morreram sexta-feira numa operação policial num dos maiores conjuntos de favelas do estado brasileiro do Rio de Janeiro, segundo um novo balanço policial.
O anterior balanço apontava para cinco vítimas mortais durante a operação levada a cabo pelas polícias civil e militar no Complexo do Alemão, e liderada por uma unidade de elite denominada Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE).
O delegado da Polícia Civil Marcus Amim informou que entre os mortos está o chefe do tráfico do Morro Pavão-Pavãozinho, localizado na Zona Sul da cidade, e um dos seus seguranças.
A identidade do homem não foi divulgada, mas as autoridades policiais afirmaram que escapou da prisão em 2016 e era considerado um dos principais traficantes de drogas nas favelas de Cantagalo-Pavão-Pavãozinho.
As autoridades afirmaram que os agentes da operação procuravam o narcotraficante no Complexo do Alemão e tentavam confirmar informações sobre uma casa que seria usada como esconderijo para armas quando um grupo armado abriu fogo e atirou granadas na direção da polícia.
Cinco pessoas foram declaradas mortas num hospital próximo, enquanto outros cinco corpos foram transportados por residentes locais para a entrada do Complexo do Alemão.
Na operação que decorreu na zona norte do Rio de Janeiro foram ainda apreendidas oito espingardas, subindo para 139 o número desse tipo de armamento apreendido pelas autoridades este ano, segundo informou a Polícia Militar na rede social Twitter.
Durante a manhã de sexta-feira, vários moradores daquele complexo de favelas usaram as redes sociais para relatar a situação de pânico que viveram durante a operação, levada a cabo pelas polícias civil e militar.
Os cidadãos criticaram o facto de serem realizadas operações num momento de pandemia do novo coronavírus, em que os moradores permanecem mais tempo nas favelas, ficando mais vulneráveis aos confrontos entre polícia e gangues.
“Em meio à pandemia global, uma chacina essa manhã no Complexo do Alemão, após a operação do Batalha~o de Operac¸o~es Especiais. Evitar aglomerac¸a~o? ??Isolamento social completo?? E´ impossi´vel nessa realidade, infelizmente. O choro de uma ma~e acaba com meu corac¸a~o”, escreveu na rede social Twitter Raull Santiago, ativista e morador do Complexo do Alemão, partilhando um vídeo onde é possível ver corpos no chão.
Já o jornal Voz da Comunidades falou em “cenário de guerra” para relatar a situação vivida pelos moradores da região.
“Cinco mortos e um ferido nesta manhã no Complexo do Alemão. Cenário de guerra: Moradores enviaram vídeos (…) mostrando a destruição em um beco por conta de uma granada. Moradores relatam tiros desde 06:00 da manhã [hora local, 10:00 em Lisboa]. (…) Os corpos das pessoas que foram baleadas durante a operação estão na entrada do loteamento aguardando a chegada do rabecão [carro fúnebre]”, reportou o jornal nas redes sociais.
De janeiro a março, a polícia matou 429 pessoas durante operações no estado brasileiro do Rio de Janeiro, uma queda de 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Os homicídios também diminuíram, caindo 0,9% neste ano, para 1.044 vítimas mortais.