Sexta-feira, 22 de Novembro, 2024

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Combate ao terrorismo em África feito à custa de violações dos direitos humanos

O combate ao crescente terrorismo que afeta países em África, como Moçambique, está a resultar em violações de direitos humanos, nomeadamente pelo grupo paramilitar russo Wagner, denunciou a diretora geral interina da organização Human Rights Watch, Tirana Hassan.

Embora reconheça o terrorismo que “tem atormentado certos países em África”, como Moçambique e a região do Sahel, a responsável vincou que a violência não se limita aos grupos insurgentes, e que a organização tem registado violações dos direitos humanos nas operações de luta contra o terrorismo.

Hassan alertou para a “violações flagrantes dos direitos humanos, incluindo assassínios de insurgentes e mortes de civis, detenções em massa e arbitrárias, tudo sob o pretexto do contraterrorismo”.

“Temo-lo visto no Mali, por exemplo, onde o Grupo Wagner entrou como milícia privada para desempenhar um papel nas operações de contraterrorismo”, afirmou, em entrevista à agência Lusa, defendendo que os abusos “precisam de ser refreados imediatamente em todo o continente”.

Segundo o relatório anual da Human Rights Watch, publicado hoje, soldados malianos e forças de segurança estrangeiras aliadas serão responsáveis por centenas de homicídios ilegais de suspeitos e civis, sobretudo durante operações de contraterrorismo nas regiões de Mopti e Ségou.

“Em março, forças de segurança malianas e aliadas alegadamente executaram sumariamente mais de 300 homens sob custódia, incluindo supostos combatentes islamistas, em Moura, no centro do Mali”, descreveu, referindo outros incidentes envolvendo a morte de mais de uma centena de homens e a violação de mulheres. 

A empresa militar privada russa Wagner, propriedade de um oligarca próximo do Presidente russo, Vladimir Putin, está presente em vários países africanos, incluindo a República Centro-Africana, Sudão, Mali e Burkina Faso. 

O grupo foi alvo de sanções em 2021 pela União Europeia e Reino Unido por fomentar a violência, pilhar recursos naturais e intimidar os civis, recorrendo a “tortura e execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias”, em países onde está presente, como a Líbia, a Síria, a Ucrânia e a República Centro-Africana.

Os mercenários russos foram recrutados por líderes africanos para render a operação francesa Barkhane, que saiu de África em novembro após nove anos de luta contra grupos fundamentalistas islâmicos ligados à Al-Qaida ou ao grupo Estado Islâmico. 

Estes grupos são responsáveis por ataques em vários países da região do Sahel, norte de África, e estão gradualmente a alargar as atividades ao Golfo da Guiné.

Desde há cinco anos que insurgentes armados também estão ativos no norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado, onde alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência já fez pelo menos um milhão de deslocados e cerca de 4.000 mortos, o que levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). 

Na terça-feira, as Forças Armadas da África do Sul anunciaram a abertura de um inquérito sobre o alegado envolvimento de soldados da força militar regional da SADC em Moçambique (SAMIM) num vídeo que mostra tropas a queimarem corpos naquele território.

O vídeo, divulgado nas redes sociais, mostra militares alegadamente do exército sul-africano e outros elementos desconhecidos a atirarem cadáveres para uma pilha de escombros a arder, segundo as autoridades militares de Pretória.

Lusa

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