O número de pessoas na região do Sahel, África, a necessitar de assistência e proteção humanitária atingiu um novo recorde de 29 milhões, mais cinco milhões do que no ano passado, alertaram hoje a ONU e organizações não-governamentais.
“O número de ataques violentos aumentou oito vezes no Sahel central e três vezes na Bacia do Lago Chade”, disse Marie-Pierre Poirier, diretora regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), num comunicado conjunto.
Segundo a responsável, “a violência e a insegurança estão a perturbar gravemente os serviços sociais básicos: quase 5.000 escolas estão fechadas ou não funcionam, comprometendo o futuro de centenas de milhares de crianças e 1,6 milhões de crianças estão em risco de desnutrição aguda grave”.
O diretor nacional do Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC) do Mali, Hassane Hamadou, advertiu que “a crescente insegurança e a falta de distinção entre respostas militares e humanitárias constituem um perigo real para as pessoas e para as operações”.
“A nossa aceitação local é cada vez mais desafiante e muitas crianças vulneráveis podem nunca conhecer a paz, um ano escolar completo e um dia sem fome”, acrescentou Hamadou.
De acordo com a declaração, o número de pessoas deslocadas à força atingiu um máximo histórico no Sahel central e na Bacia do Lago Chade, subindo para 5,3 milhões.
“O conflito no Sahel está a crescer, tornando-se mais complexo e envolvendo mais atores armados”, disse Xavier Creach, coordenador e diretor adjunto para a África Ocidental e Central do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) no Sahel.
O responsável do ACNUR acrescentou que “os civis acabam por pagar o preço mais alto, pois enfrentam um número crescente de ataques mortais, violência baseada no género, extorsão ou intimidação, e são obrigados a fugir”.
Além disso, a fome na África Ocidental atingiu o seu nível mais alto em quase uma década, advertiu o diretor regional do Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU na África Ocidental, Chris Nikoi.
“As áreas mais preocupantes são o Sahel central [Burkina Faso, norte dos Camarões, Chade, Mali, Níger e nordeste da Nigéria] e a Bacia do Lago Chade, onde a escalada do conflito está a alimentar a fome”, disse Nikoi.
Um problema na abordagem desta crise é a falta de financiamento, uma vez que apenas 9% dos 3,7 mil milhões de dólares (3.085 milhões de euros) necessários tinham sido recebidos até ao final deste mês, segundo Julie Belanger, chefe do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA) das Nações Unidas para a África Ocidental e Central.
Além dos problemas desta região, situada entre o deserto do Saara e a savana, causados pelas alterações climáticas e pela má governação, a insegurança causada por grupos rebeldes, a criminalidade e os conflitos inter-comunitários foram acrescentados nos últimos anos.
Fonte: Lusa