Sábado, 28 de Junho, 2025

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Primeiro-ministro etíope anuncia fase final de operação militar em Tigré

O primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed anunciou, nesta terça-feira (17), que a operação militar em curso na região dissidente de Tigré (norte) entrará em breve na fase “final”, num contexto de crescente pressão internacional e advertências da ONU por uma “crise humanitária” na fronteira com o Sudão.

Em 4 de novembro, Abiy enviou o Exército federal à região dissidente da Etiópia, após meses de tensões com as autoridades regionais da Frente de Libertação dos Povos de Tigré (TPLF).

Há quase duas semanas o governo executa ataques aéreos – o mais recente na segunda-feira atingiu a capital regional Mekele -, enquanto os combates forçaram a fuga de 27.000 habitantes para o Sudão.

A ONU advertiu nesta terça-feira para uma “crise humanitária em grande escala” na fronteira entre os dois países. Um porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) afirmou que quase 4.000 pessoas atravessam diariamente a fronteira entre Etiópia e Sudão desde 10 de novembro.

“Este é um fluxo que não observamos nas últimas duas décadas nesta parte do país”, disse Babar Baloch, porta-voz do ACNUR em Genebra. O grande número de pessoas “está excedendo muito rapidamente a capacidade das organizações humanitárias locais”, acrescentou.

Na sexta-feira, Abiy afirmou que as forças da TPLF “agonizavam” e pediu aos soldados do grupo que desertassem em favor do Exército federal em dois ou três dias.

“Este prazo de três dias às forças regionais e às milícias de Tigré para que se entregassem ao Exército federal, ao invés de permanecerem como fantoches nas mãos da junta gananciosa (TPLF), expirou”, escreveu Abiy em sua página do Facebook, numa mensagem na qual felicitou as tropas que “utilizaram” o prazo, sem revelar detalhes.

“Como o prazo expirou, as operações finais de manutenção da ordem acontecerão nos próximos dias”, resumiu.

O apagão imposto à região e as restrições dos deslocamentos dos jornalistas dificultam a avaliação da situação.

O Exército federal afirma que controla o oeste de Tigré (ou Tigray) – onde os combates se concentram e que já provocaram centenas de mortes, segundo Adis Abeba – assim como a localidade de Alamata, ao sudeste da região.

Mas o presidente de Tigré, Debretsion Gebremichael, declarou à AFP que “o governo e o povo da região permanecerão firmes”, dando a entender que os combates devem prosseguir.

“Esta campanha (militar) não pode acabar. Enquanto o exército dos invasores estiver em nossa terra, a luta continuará. Não podem nos calar pela força”, disse.

– Propagação do conflito –

Debretsion Gebremichael também afirmou que na segunda-feira aconteceu um ataque aéreo contra Mekele, a capital regional, que deixou mortos e feridos entre os civis.

Adis Abeba negou a informação num comunicado, que garante que a incursão apontou contra “alvos cruciais da TPLF” fora de Mekele.

Os detalhes da operação e o balanço de vítimas não foram verificados por fontes independentes até o momento.

Poucos dias depois de a TPLF lançar foguetes contra a capital da vizinha Eritreia, acusada de ajudar o exército federal, a preocupação com as possíveis consequências regionais do conflito aumenta.

Prêmio Nobel da Paz em 2019, Abiy Ahmed resiste aos apelos da comunidade internacional pelo fim dos combates e para que aceite uma mediação.

Os presidentes de Uganda e Quênia, Yoweri Museveni e Uhuru Kenyatta, respectivamente, fizeram pedidos de paz e diálogo na segunda-feira, quando receberam numa reunião o vice-primeiro-ministro etíope Demeke Mekonnen, que defendeu a ação do governo.

O porta-voz do ACNUR destacou que “a falta de energia elétrica, telecomunicações e acesso a combustível e dinheiro em espécie limitam qualquer resposta de ajuda humanitária em Tigré e no resto da Etiópia”.

Ele disse ainda que as agências de ajuda humanitária não sabem quantas pessoas estão deslocadas internamente, na própria Etiópia, mas citou relatórios que mencionam “um grande número”.

Baloch afirmou que o ACNUR e seus parceiros “estão prontos para prestar assistência aos deslocados em Tigré, o que inclui principalmente as necessidades básicas, quando o acesso (à região) e a segurança permitirem”.

O ACNUR lembra ainda que o conflito também afeta quase 100.000 refugiados eritreus estabelecidos em Tigré e que dependem de ajuda humanitária para sobreviver.

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