Dezenas de milhares de pessoas protestavam, neste domingo (20), nas ruas de Minsk, capital de Belarus, contra a reeleição de Alexandre Lukashenko, apesar da repressão da polícia, que deteve cerca de 160 pessoas.
Vestidos de vermelho e branco, as cores da oposição, os manifestantes marchavam pela Avenida dos Vitoriosos e se dirigiam para o Palácio da Independência, residência de Lukashenko, no norte da capital.
Desde a questionada reeleição de Lukashenko, em 9 de agosto, manifestações de magnitude histórica acontecem todos os domingos para exigir a renúncia do atual chefe de Estado, no poder há 26 anos.
As manifestações ocorreram apesar do grande deslocamento da polícia com veículos blindados, canhões de água e dezenas de agentes, que fizeram mais de 100 prisões na capital e mais de 50 em cidades do interior, em particular em Brest, Grodno e Gomel, segundo o ONG de defesa dos direitos humanos Viasna.
Imagens divulgadas durante a noite mostraram polícias às vezes levando manifestantes brutalmente para as carrinhas das forças de segurança.
Em Brest (sudoeste), a polícia usou gás lacrimogêneo e um polícia jogou uma granada ensurdecedora contra a multidão, segundo o ministro do Interior.
Em Minsk, o desfile foi realizado em clima de festa, com os manifestantes gritando “Limpem!”, Em alusão ao presidente.
“Estando unidos e pressionando permanentemente, poderemos nos livrar de Lukashenko”, disse à AFP Valeri Kuptsevich, um aposentado de 72 anos.
No sábado (19), polícias do Batalhão de Choque prenderam centenas de mulheres durante uma manifestação na capital.
De acordo com a porta-voz do Ministério bielo-russo do Interior, Olga Chemodanova, 415 pessoas foram presas em Minsk, e 15, noutras cidades, por participarem de “manifestações não autorizadas”.
No total, 385 foram soltas, segundo a mesma fonte, acrescentando que os participantes de outras manifestações poderão ser alvo de ações judiciais.
– “Escalada da violência” –
O conselho de coordenação da oposição alertou para uma “nova fase com escalada da violência contra manifestantes pacíficos”.
Neste domingo, Oleg Moisseev, membro do conselho e aliado próximo da líder da oposição Svetlana Tijanóvskaya, foi detida em Minsk durante a marcha, segundo Viasna.
No sábado foi a vez de Nina Baginskaya, uma ativista de 73 anos que se tornou um dos rostos mais conhecidos do movimento. Ela foi liberada rapidamente.
Diante da repressão policial, um grupo de oposição no Telegram amplamente seguido, Nexta, publicou uma lista de mais de 1.000 pessoas se fazendo passar por funcionários da polícia bielo-russa.
E, nas ações de protesto, os ativistas também tentam tirar as máscaras, ou os capuzes, dos polícias que não usam crachá, ou outro tipo de identificação.
A oposição convocou várias marchas das mulheres para pedir a renúncia de Lukashenko. Sua rival da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, agora refugiada na Lituânia, conquistou a vitória nas eleições.
Em mensagem divulgado no sábado, Tikhanovskaya disse que “os bielorrussos estão prontos para que caia o anonimato daqueles que obedecem a ordens criminosas”.
“Tem que olhar nos olhos do nosso povo, o povo que eles deveriam defender”, criticou ela, dirigindo-se às forças de segurança, conforme citado no Telegram de sua assessoria de imprensa.
Tikhanovskaya se reúne com os chanceleres da União Europeia, nesta segunda-feira (21), em Bruxelas.
Está previsto o anúncio de sanções europeias contra personalidades bielo-russas consideradas responsáveis por fraude eleitoral e pela repressão policial contra manifestantes.
Esta semana, Bruxelas pediu uma “investigação profunda” sobre as denúncias de abusos cometidos contra manifestantes nos locais onde foram detidos.