O vice-presidente do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais, Moeletsi Mbeki, disse hoje que o principal problema de África reside na “ganância das elites” e na “sua falta de compromisso” com o desenvolvimento do continente.
“Muitas pessoas pensam que o nosso problema é não termos capital suficiente ou não termos conhecimento suficiente, mas o grande problema em África é a ganância das elites e a sua falta de compromisso com o desenvolvimento do continente. Este é o nosso problema fundamental”, disse Moeletsi Mbeki.
O economista sul-africano, que falava num dos painéis do Fórum Euro-África, que hoje termina, considerou que a transferência de capital para a Europa é um dos exemplos dessa falta de compromisso.
“Temos pequenas elites que se apropriam das poupanças e que, infelizmente, transferem muitas dessas poupanças para a Europa porque não se sentem seguras em África por causa dos problemas de desigualdade que se vivem em todo o continente”, apontou.
Por isso, sustentou Moeletsi Mbeki, é necessária “mudança política” para que as “poupança de África fiquem no continente para financiar os empreendedores africanos”.
“Se olharmos para os principais projetos em África, percebemos que muito do dinheiro para o financiamento é emprestado de fora de África, do Banco Europeu de Investimento, por exemplo”, apontou.
Citando dados de um estudo elaborado há alguns anos pelo Governo britânico, Moeletsi Mbeki adiantou que 40% da riqueza africana está fora do continente comparado com apenas 3% ou 4% de regiões como a Ásia.
“Enquanto as elites africanas mantiverem 40% da riqueza fora de África, não teremos reservas para financiar o investimento no continente”, sublinhou.
Moeletsi Mbeki defendeu ainda que parte do problema está também relacionado com o facto de os governos “que o poder colonial deixou” no continente “não estarem orientados para a produção ou para o desenvolvimento, mas apenas para o seu consumo próprio”.
Para o economista, é preciso, por isso, “uma nova fase de democratização em África, que tire poder às elites atuais e o transfira para outras mais orientadas para o desenvolvimento”.
O Fórum Euro-África reuniu durante dois dias personalidades dos setores público e privado, sociedade civil, empresários, ativistas e cientistas africanos e europeus com o propósito de aproximar os dois continentes na “procura de pontos comuns num mundo pós-covid”.
O Fórum Euro-África foi organizado pelo Conselho da Diáspora Portuguesa, uma organização privada sem fins lucrativos, com 95 membros em cinco continentes e que tem por missão “alavancar o poder da diáspora, de forma a promover conversas e conexões globais sobre assuntos de cultura, impacto social, ciência, negócios e economia”, segundo a organização.