Segunda-feira, 23 de Dezembro, 2024

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Corrupção ligada ao coronavírus afeta imagem do presidente sul-africano

Uma recente série de escândalos de corrupção relacionados à pandemia do coronavírus manchou a imagem do presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, criticado por sua inércia. Uma situação que pode obrigá-lo a cumprir sua promessa de limpar o país, segundo analistas.

Numa África do Sul ainda atolada no turbilhão dos escândalos da presidência de Jacob Zuma (2009-2018), as acusações de desvio de fundos públicos destinados ao combate à COVID-19 ou ao apoio da população não surpreenderam ninguém.

ONGs que ajudam os mais desfavorecidos ficaram animadas, inicialmente, com a gestão muito pessoal de algumas autoridades locais. Mas alguns hospitais denunciaram mais tarde o “desaparecimento” de lotes inteiros de materiais de proteção.

Nada comparável aos bilhões de rands que sumiram das empresas públicas nos últimos anos, mas chocante por serem roubos contra os mais necessitados.

“Essa corrupção é mais real”, diz o economista Thabi Leoka. “Quando [afeta] famílias famintas à espera de seu pacote de alimentos, sua realidade é ainda mais gritante”, acrescenta.

O fenômeno ganhou tom político no mês passado, quando a imprensa revelou irregularidades na atribuição de um contrato para o marido da porta-voz do presidente, Khusela Diko.

Mais tarde, outras personalidades do Congresso Nacional Africano (ANC), no poder, viram-se envolvidas em outros escândalos, incluindo o seu secretário-geral Ace Magashule. Todos se dizem inocentes.

O chefe de Estado, sob pressão, prometeu perseguir “as hienas que andam em volta das presas feridas”.

“Quando a corrupção surge em uma situação que coloca em risco a confiança e a coesão social, os desafios são importantes”, considera Karam Singh, um dos dirigentes da ONG Corruption Watch. “Parece o momento de iniciar reformas”, afirma.

Quando sucedeu Jacob Zuma no início de 2018, Cyril Ramaphosa prometeu acabar com o roubo sistemático dos recursos públicos autorizado por seu antecessor e punir severamente seus perpetradores. Mas até hoje, poucos foram processados ou presos.

– “Presidente espectador” –

Suas advertências contra aqueles atraídos pelo cheiro do plano de ajuda pública de 24 bilhões de euros (US $ 28 bilhões) contra a pandemia tiveram pouco efeito.

“Ele disse imediatamente que a ajuda seria vigiada de perto […] mas isso não foi um impedimento”, aponta Collette Schulz-Herzenberg, especialista em ética pública da Universidade Stellenbosch.

Criticado pela rigidez de seu confinamento, com a proibição da venda de bebidas alcoólicas e cigarro, Ramaphosa passou a ser criticado também pela falta de combate à corrupção.

“Temos um presidente espectador”, lamenta o líder da oposição, John Steenhuisen. “Os sul-africanos estão cansados desse vácuo”.

Um ano antes das próximas eleições locais, alguns já preveem que o campo presidencial vai pagar um preço alto.

“É claro que a raiva da população vai explodir nas urnas”, prevê o analista político Ralph Mathekga.

Mas a exasperação dos sul-africanos poderia, ao invés disso, servir ao poder para iniciar reformas profundas, essenciais para erradicar a corrupção, opina Karam Singh.

Para acabar com as suspeitas, algumas autoridades provinciais publicaram recentemente os detalhes de seus contratos ligados ao coronavírus.

No início do mês, o ministro das Finanças, Tito Mboweni, pediu transparência obrigatória nas concessões públicas.

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