“A imprensa com fins lucrativos desabou, e os jornais não conseguiram construir uma resposta digital”, explica Penelope Abernathy, ex-vice-presidente do “Wall Street Journal” e do “The New York Times” e professora de economia dos meios de comunicação.
Apesar disso – afirma Penelope -, ainda existe um futuro para alguns grandes jornais e revistas.
Pergunta: Por que a imprensa entrou em colapso com a COVID-19?
Resposta: Em muitos países, os jornais se construíram, historicamente, sobre um modelo lucrativo. Nos Estados Unidos, não se apoia no fato de que os leitores paguem pelas informações, mas em anunciantes.
Agora, esse modelo desabou, e os jornais não conseguiram construir uma resposta digital. Mesmo em mercados muito pequenos, Facebook e Google engolem três quartos da receita digital. A mídia compartilha as sobras. Não é suficiente construir um jornalismo sólido.
A COVID-19 dizimou ainda mais esse modelo em publicidade. Vivemos uma crise econômica prolongada. A mídia sobreviveu com pouca margem. A COVID-19 acelerou sua queda.
P: Quais jornais perdemos?
R: Nos Estados Unidos, perdemos um quarto (25%) dos jornais que existiam em 2004. A maioria dos que desapareceram eram jornais pequenos, ou semanais. Fecharam da noite para o dia. Tornaram-se semanais, e isso não funcionou. Passaram para versão digital apenas e depois desapareceram. Como consequência disso, desde 2008, metade dos jornalistas da imprensa escrita foi demitida.
Ainda temos 150 grandes jornais regionais. Embora tivessem esperança, no início de sua transformação digital, não foram capazes de gerar receita por meio de publicidade, ou assinaturas.
E os donos mudaram de maneira radical. A maior parte dos grandes grupos de jornais era negociada na Bolsa, sabíamos o que faziam. Seus novos donos são empresas privadas, ou fundos especulativos. Sua prioridade é pagar dividendos. Podem chegar e cortar orçamentos de forma muito mais agressiva.
O que me preocupa nos Estados Unidos é que temos uma tendência de perder jornais em comunidades com grandes dificuldades, com fortes índices de pobreza. E, no entanto, são elas que mais precisam de informação para se preparar para um futuro melhor.
P: Quais modelos econômicos podem subsistir?
R: Um jornal nacional como o “New York Times”, ou o “Wall Street Journal”, pode aplicar uma estratégia para alcançar um número suficiente de leitores e convencê-los a pagar. Mas um jornal regional nunca alcançará 5,5 milhões de assinantes!
Fórmulas com fins lucrativos, sem fins lucrativos, ou híbridas, funcionarão dependendo do local. Um dono de jornal criativo e rigoroso que deseja investir em longo prazo num mercado com potencial de crescimento tem chances de sucesso.
O papel impresso sobreviverá de alguma forma. Há dez anos, previa-se que, hoje em dia, todo mundo leria livros digitais. Mas eles atingiram seu teto há cinco anos! Há um futuro para as revistas semanais e mensais, mas, salvo raras exceções, lembraremos com nostalgia a era dos jornais.