Artistas angolanos e portugueses celebraram, em Luanda, os 50 anos de independência de Angola ao som do fado, um estilo musical português, que já começa a agradar a alguns nacionais, segundo a presidente da comissão executiva do Caixa Angola.

A 8ª edição do “Festival Caixa Fado”, promovido pelo banco Caixa Angola, realizou-se na noite de quinta-feira, juntando os artistas angolanos Matias Damásio, Heroide, Anabela Aya e os portugueses Camané, Filipa Cardoso, Marco Rodrigues e Ana Sofia Varela.
Os artistas “Unidos pela História, Juntos pela Liberdade”, lema desta 8.ª edição do Festival do Caixa Fado, que teve casa cheia, brindou o público com temas “Porquê do Fado”, “Era o Adeus”, interpretado por Heroide, jovem cantora angolana, que se estreou neste evento.
Em declarações à imprensa, Heroide, que apresentou um dueto com a portuguesa Filipa Cardoso, disse ter ganhado o gosto e aprendido a interpretar o fado “só de ouvir” e manifestou a sua felicidade e confiança.
Heroide, que fez a sua primeira atuação em Lisboa este ano, deseja fazer no futuro um dueto com os fadistas Marco Rodrigues e Sara Correia.
Filipa Cardoso considerou “um orgulho e uma honra” a sua participação no espetáculo, manifestando admiração por Heroide, a colega angolana com a qual partilhou o palco.
“Estou apaixonada pela voz daquela menina, talentosíssima, estava muito nervosa, sem motivo nenhum, porque ela tem um grande e longo caminho pela frente. Ela escolheu um tema particularmente engraçado do meu álbum, “O Cai a Noite”, que há muito tempo eu não cantava e foi um privilégio cantar com ela”, realçou.
A fadista portuguesa disse ainda que se sentiu “muito abraçada pelo povo angolano”, frisando que é interessante e que gosta muito de partilhar o palco com artistas de outros géneros musicais, “com músicos de outras culturas”, uma fusão que “resulta sempre muito”, não só por partilharem a mesma língua, mas porque “o semba tem a mesma profundidade do fado”.
Também de Angola atuou, pela terceira vez, no “Festival Caixa Fado” a cantora Anabela Aya, que partilhou noutras ocasiões o palco com Marco Rodrigues e Ana Sofia Varela, e já está à espera do próximo convite.
Anabela Aya, que, em 2017, foi eleita Diva da Música Angolana, destacou que o interesse por este estilo musical português ainda é pouco relevante, sendo necessário mais trabalho para que os angolanos estejam abertos às “novas sonoridades”.
A artista, uma referência do afrojazz e do soul, arriscando também na morna cabo-verdiana, o zouk e o semba, considerou que pela comemoração do jubileu do país, “faz todo sentido” estarem juntos portugueses e angolanos.
Já o fadista português Camané, que atua em Angola desde 1993 e tem presença assídua neste festival, frisou o facto de haver cada vez mais “uma proximidade com esta música”, realçando que “há imensas pessoas com uma capacidade enorme em cantar alguns fados”.
“Estou-me a referir, por exemplo, a Matias Damásio, a forma como ele cantou a “Lágrima” e cantou a “Lisboa Menina e Moça” comigo foi fantástico e depois o facto de cantar o “Fado da Tristeza”, realçou.
Segundo Camané, angolanos e portugueses estão unidos pela mesma língua, lembrando que tem muitos amigos de infância angolanos, que ainda hoje se vão cruzando, havendo cada vez mais uma relação muito forte entre a cultura africana, em particular a angolana, e portuguesa.
Sobre o festival, a presidente executiva do Caixa Angola, Manuela Ferreira, sublinhou “o intercâmbio grande das duas culturas” e a casa cheia para o espetáculo.
“Nós procuramos em cada festival trazer pessoas novas, talentos novos e poder também proporcionar ao público alguma heterogeneidade de vozes, mas de facto há um conjunto de pessoas que estão connosco praticamente desde o primeiro dia, que fazem parte desta estrutura, que nasceram connosco neste projeto e que não podemos deixar de convidar”, referiu.
Para Manuela Ferreira, existe já uma vasta população angolana que se interessa pelo fado, apesar de não ser “uma sonoridade que esteja intrinsecamente ligada àquele que é o ADN do país, com um tom mais colorido, mais quente, mais ritmado”.
“Desde a primeira emissão, nós fomos surpreendidos com uma adesão do público angolano, que não tínhamos expetativa”, acrescentou.
Lusa