O ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane vincou hoje que houve acordos nos dois encontros com o Presidente moçambicano, Daniel Chapo, no âmbito da pacificação das manifestações pós-eleitorais, pedindo aos que estiveram presentes para testemunharem.

“Logicamente que houve acordo, é o que eu já afirmei, sobre quatro pontos no primeiro encontro, no dia 23 de março, e no dia 20 de maio passámos de quatro para seis pontos”, disse o político moçambicano Venâncio Mondlane, em declarações aos jornalistas, ao chegar a Maputo, após algumas semanas na Europa, em contactos em Portugal e na Alemanha.
“Bom, claro, naturalmente que eu acho que não há coisa melhor, mesmo quando estamos em fórum judicial, quando a palavra de um é colocada contra a palavra de outro, o que é que se recorre? Recorrem-se as testemunhas. Então, nós temos oito pessoas que testemunharam estes dois encontros e que são pessoas de alguma credibilidade social, digamos, quase que inquestionável”, declarou o ex-candidato presidencial que rejeita os resultados eleitorais de outubro passado.
O Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, garantiu em 02 de julho, em entrevista à Lusa, que o acordo para a pacificação do país após o processo eleitoral está a ser cumprido e que os signatários, os partidos políticos, estão satisfeitos, rejeitando, entretanto, qualquer acordo com Venâncio Mondlane.
“Esse é um aspeto muito importante. Não houve assinatura do acordo com Venâncio Mondlane. E não sei de que acordo está a falar. Houve um acordo, que assinámos com os partidos políticos, e Venâncio Mondlane não tem partido ainda, pode vir a ter no futuro”, disse Daniel Chapo.
Em declarações aos jornalistas hoje, em Maputo, Venâncio Mondlane pediu pronunciamentos dos que testemunharam as conversações, lembrando que, após o segundo encontro, “saiu da palavra do Daniel Chapo que [houve] acordo nisto”.
“Esta palavra de acordo saiu da boca dele. Então é neste momento altamente contraditório, ele que já deu uma entrevista logo depois do encontro a falar de acordo, hoje a dizer que não há acordo nenhum. Mas penso que ele deve estar sob alguma pressão interna, na qual não tem autoridade suficiente para se impor”, acrescentou.
Moçambique viveu desde as eleições de outubro de 2024 um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Venâncio Mondlane, que rejeitou os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, culminando com cerca de 400 mortos, de acordo com dados das organizações da sociedade civil que acompanharam o processo.
O Governo moçambicano confirmou anteriormente, pelo menos, 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.
Após meses de manifestações de contestação aos resultados eleitorais, o chefe de Estado e Venâncio Mondlane encontraram-se pela primeira vez em 23 de março, em Maputo, e acordaram pela pacificação do país, repetindo o encontro em 21 de maio.
Lusa