A África Subsaariana continua a ser uma das regiões com a população mais jovem do mundo, mas enfrenta obstáculos significativos que comprometem o seu potencial, revelou esta quarta-feira a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), através do relatório “O Estado da Juventude nos Sistemas Agroalimentares”. A análise destaca os jovens como agentes fundamentais da transformação económica e social global, mas denuncia as crescentes dificuldades que enfrentam, especialmente em zonas rurais.

Segundo o estudo, existem atualmente cerca de 1,3 mil milhões de jovens entre os 15 e os 24 anos no mundo, com taxas de desemprego 3,5 vezes superiores às dos adultos. Mais de 25% dos jovens a nível global não estudam, não trabalham nem recebem formação profissional, sendo que 85% vivem em países de baixo rendimento, particularmente na África Subsaariana e no Sul da Ásia.
A FAO salienta que, apesar da África Subsaariana ser estratégica para o futuro da agricultura mundial, 62% dos jovens que trabalham no setor agroalimentar fazem-no em condições precárias, caracterizadas por informalidade laboral, salários baixos, ausência de proteção social e degradação ambiental. Esta realidade empurra muitos jovens a migrar dentro dos seus próprios países em busca de oportunidades melhores, num fenómeno que assume contornos distintos entre raparigas e rapazes. Em países como o Benim, por exemplo, meninas com apenas 13 anos são forçadas a migrar por razões familiares ou de casamento.
A migração rural–rural e a migração para áreas urbanas têm efeitos diferenciados: enquanto a primeira permite diversificar atividades no setor agroalimentar, a segunda oferece acesso a empregos não agrícolas. Ainda assim, a falta de acesso à terra continua a ser um entrave decisivo, agravado pela desigualdade de género nos sistemas tradicionais de herança, que frequentemente excluem as mulheres da propriedade fundiária.
Apesar do cenário global desafiante, o relatório da FAO destaca Angola como um exemplo positivo, ao lado do Uganda e do Equador, por registar um aumento na proporção de jovens entre os trabalhadores agrícolas. Em Angola, esta percentagem subiu de 21% para 29%, contrariando a tendência global de afastamento da juventude do setor agrícola. Este dado é interpretado como um sinal promissor da capacidade de inclusão e atratividade do setor para as novas gerações.
A FAO defende que os sistemas agroalimentares podem ser transformados em fontes de emprego digno, através de investimentos em educação, formação técnica, inovação tecnológica e acesso a financiamento. Para alcançar esse objetivo, propõe uma transformação estrutural assente em três pilares: acesso a empregos decentes, reforço da segurança alimentar e nutricional, e aumento da resiliência face às alterações climáticas, económicas e sociais.
Com a população jovem da África Subsaariana a crescer rapidamente — prevê-se um aumento de 65% até 2050, atingindo cerca de 400 milhões de pessoas —, o relatório da FAO é um alerta e, ao mesmo tempo, um apelo à ação urgente dos governos, sociedade civil e instituições internacionais para garantir que este potencial demográfico se traduza em progresso económico sustentável e inclusivo.