O Partido Trabalhista reúne-se nos próximos dias em congresso sem a euforia pós-eleitoral, ensombrado por polémicas com ‘borlas’ e presentes ao primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e insatisfação interna com cortes orçamentais e salários de assessores.
O congresso, que começa em Liverpool no domingo e decorre até quarta-feira, é o primeiro desde a vitória histórica nas eleições legislativas de 04 de julho, das quais saiu o ‘Labour’ com uma grande maioria absoluta.
Mas, apenas três meses depois de voltar ao poder, a euforia foi substituída por azedume.
Nos últimos dias, fontes anónimas do governo, grupo parlamentar e partido, multiplicaram-se na comunicação social britânica com críticas ao líder e à chefe de gabinete, Sue Gray, expondo desavenças.
Na quarta-feira, a BBC noticiou que Gray tem um salário superior ao do primeiro-ministro, perante queixas de assessores de ministros de que ganham agora menos do que quanto trabalhavam para o Partido Trabalhista.
O salário da chefe de gabinete está no topo de uma tabela de escalões salariais para assessores políticos, aumentada desde as eleições, nas quais o governo garante não ter interferido.
A público vieram também revelações sobre numerosas donativos em roupa, óculos, alojamento e bilhetes para eventos a Starmer, e à mulher, Victoria, cujo valor causou desconforto entre militantes.
A estação televisiva Sky News noticiou que Starmer declarou “presentes, benefícios e hospitalidade” no valor de mais de 100 mil libras (120 mil euros) desde dezembro de 2019, a maioria de Waheed Alli, um milionário membro da Câmara dos Lordes e apoiante do ‘Labour’ há muitos anos.
Entre as ‘borlas’ que Starmer recebeu, tanto como líder da oposição e como enquanto primeiro-ministro, estão milhares de euros em bilhetes para assistir a jogos do clube de futebol Arsenal numa área reservada.
“Sou um grande adepto do Arsenal. Não posso estar nas bancadas por razões de segurança”, justificou, insistindo que tem bilhete para a época inteira e que aceitar os convites do clube poupa dinheiro aos contribuintes em proteção.
Em declarações ao jornal Daily Telegraph, de forma anónima, vários deputados trabalhistas acusaram-no “hipocrisia” e urgiram-no a deixar de aceitar ofertas.
“Penso que o facto de insistir e tentar justificar a situação está a piorar as coisas”, admitiu a antiga deputada e agora membro da Câmara dos Lordes, Harriet Harman, num ‘podcast’ da Sky News.
O primeiro-ministro rejeitou ter cometido irregularidades e desvalorizou a alegada dissidência dentro do partido, afirmando que está “completamente em controlo” do governo e do partido.
“Estou concentrado e todos os dias a minha mensagem para a equipa é exatamente a mesma, ou seja, temos de cumprir o que prometemos. Fomos eleitos com base num grande mandato para impor mudança e estou determinado a fazê-lo”, afirmou Starmer à BBC na quinta-feira.
O desconforto interno com a situação juntou-se à discórdia interna sobre o corte de um subsídio para aquecimento no inverno atribuído a aposentados, a manutenção do limite de abono de família a duas crianças numa família e ao tom demasiado pessimista sobre o futuro orçamento.
Vários deputados trabalhistas foram suspensos e alguns sindicatos querem discutir estas questões no congresso, rejeitando uma política de austeridade similar à do Partido Conservador enquanto esteve no poder durante 14 anos.
Perante a crescente impopularidade nas sondagens, o jornal The Guardian, alertou em editorial que “algo está a falhar” no governo e que “precisa de ser resolvido – rápido”.
“Este não é um momento fatal para o mandato de primeiro-ministro de Sir Keir. Mas é um fracasso com o qual é crucial que aprenda”, vincou.
Lusa