Sexta-feira, 21 de Novembro, 2025

O seu direito à informação, sem compromissos

Pesquisar

África do Sul acolhe Cimeira do G20 marcada pelo boicote de Donald Trump

A África do Sul vai acolher, no próximo fim de semana, a cimeira do G20, numa reunião em que pretende obter compromissos concretos para aliviar a dívida dos países em desenvolvimento e enfrentar as desigualdades globais. A grande ausência será a do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que decidiu não participar no encontro.

O regresso de Trump à Casa Branca representou um revés significativo para a primeira presidência africana do G20. O grupo, composto por 19 países, à União Europeia e à União Africana, representa 85% do PIB mundial e quase dois terços da população global.

Desde que voltou ao poder, o Presidente norte-americano tem demonstrado ceticismo em relação ao multilateralismo — um dos pilares do G20 — reforçando medidas protecionistas e impondo novas tarifas comerciais. Além disso, Trump tem sido abertamente crítico do governo sul-africano liderado por Cyril Ramaphosa, que acusa de inação perante alegadas perseguições à minoria africânder, descendente de colonos europeus.

Face às tarifas agravadas impostas pelos EUA à África Subsaariana, que chegam agora aos 30%, Pretória procurou restabelecer a relação bilateral, mas sem sucesso. Cyril Ramaphosa decidiu, por isso, avançar com a agenda da cimeira, independentemente da ausência da maior economia do mundo.

Sob o lema “Solidariedade, igualdade, sustentabilidade”, a presidência sul-africana pretende focar-se em três prioridades:

  • o alívio da dívida dos países em desenvolvimento,
  • o financiamento da adaptação às alterações climáticas,
  • e o combate às desigualdades económicas globais.

Entre 2021 e 2023, os países africanos gastaram, em média, 70 dólares por pessoa apenas em juros da dívida, valor superior ao investido em educação (63 dólares) ou saúde (44 dólares), segundo dados das Nações Unidas.

Pretória quer igualmente avançar com a criação de um painel internacional sobre desigualdades, inspirado no IPCC das mudanças climáticas, recomendação defendida pelo Nobel da Economia Joseph Stiglitz. Para Tendai Mbanje, investigador do Centro de Direitos Humanos da Universidade de Pretória, a aprovação deste órgão seria “uma vitória importante para o Sul Global, cujas vozes raramente são ouvidas nos grandes fóruns económicos”.

China reforça presença; divisão interna ameaça consenso

A capacidade da África do Sul de garantir uma declaração final conjunta permanece incerta. Fontes que acompanharam as negociações preliminares apontam a delegação argentina como um dos principais obstáculos. O Presidente Javier Milei, alinhado politicamente com Trump, não estará presente, mas enviará o ministro dos Negócios Estrangeiros, Pablo Quirno.

Na ausência dos Estados Unidos, a China deverá assumir maior protagonismo. O primeiro-ministro Li Qiang vai deslocar-se a Joanesburgo e defenderá, segundo declarações anteriores, a preservação do multilateralismo e da globalização económica.

A Rússia será representada pelo conselheiro económico de Vladimir Putin, Maxim Oreshkin, na ausência do ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov.

Fim de ciclo no Sul Global e passagem de testemunho aos EUA

A cimeira decorrerá sábado e domingo, num centro de conferências em Joanesburgo, e marcará o fim de um ciclo de presidências do G20 protagonizadas por países do Sul Global — Indonésia (2022), Índia (2023) e Brasil (2024).

Ao término do encontro, a África do Sul passará a presidência rotativa do G20 aos Estados Unidos. O governo Trump já anunciou que, durante o seu mandato, pretende centrar a agenda na cooperação económica.

A próxima cimeira do G20 está marcada para dezembro de 2026, em Miami — num campo de golfe pertencente à família Trump.

×
×

Cart