Luanda – O ministro da Agricultura e Florestas, Isaac dos Anjos, reconheceu que o Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (PAPAGRO) não atingiu os resultados esperados, mas sublinhou que o insucesso não significa abandono da visão inicial.

Em entrevista, o governante admitiu que o conceito do programa tinha mérito, mas que a sua interrupção sem a criação de um substituto eficaz deixou um vazio no setor agrícola.
“Os erros cometem-se, a persistência resolve. O PAPAGRO falhou, sim, mas não foi substituído por nada. E quando não há nada em sua substituição, o vazio mantém viva a necessidade de algo semelhante”, afirmou.
Crítica à ausência de soluções estruturais
Isaac dos Anjos destacou que Angola precisa de respostas estruturais e sustentáveis para os problemas agrícolas, em vez de medidas pontuais ou paliativas.
“O país tem que admitir que tem que resolver os problemas de maneira estrutural. Não podemos agir como bombeiros, apagando incêndios temporários sem criar soluções permanentes”, observou.
Segundo o ministro, a realidade demonstra que há produção agrícola em muitas regiões, mas falta um sistema eficiente de comercialização e de escoamento para o mercado formal.
Falta de mercado e estatísticas invisíveis
O governante apontou ainda para o paradoxo de o país importar milhares de toneladas de produtos, enquanto camponeses têm dificuldade em vender pequenas quantidades de arroz, milho ou feijão.
“O camponês tem de ter um sítio onde possa vender o que produz. Hoje, isso não existe. Encontramos produção no interior, mas acaba escoada para mercados informais, sem entrar nas estatísticas oficiais do Produto Interno Bruto, embora alimente milhares de pessoas”, sublinhou.
Crítica ao comércio informal estrangeiro
Isaac dos Anjos referiu-se também à atuação de comerciantes estrangeiros, conhecidos como “mamadus”, que dominam o comércio rural em várias províncias, mas sem criar uma verdadeira cadeia de valor local:
“Eles estão em todo o lado, conseguem vender produtos industriais e ultraprocessados, mas não conseguem comprar a nossa produção agrícola. E, quando o fazem, levam-na para o circuito informal, sem benefícios estruturais para o país.”
Futuro e necessidade de persistência
Apesar das falhas do PAPAGRO e de outros programas anteriores, o ministro mostrou-se otimista quanto ao futuro da agricultura angolana:
“Há espaço para muita discussão, mas também para esperança. Temos um futuro risonho e a nossa missão é mobilizar mais gente para que a agricultura seja, de facto, um pilar da economia nacional.”