O secretário executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), Claver Gatete, lamentou esta sexta-feira que o continente africano, apesar de deter 60% do potencial global de energia solar, atraia menos de 3% do financiamento mundial para o setor energético.

Falando no encerramento do Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável (HLPF), que decorreu ao longo da semana em Nova Iorque, Gatete classificou África como um “paradoxo de potencial e negligência”, sublinhando que, embora rica em recursos como energia solar, eólica, hídrica e geotérmica, continua amplamente ignorada pelos investidores internacionais.
“África é rica em energia solar, mas pobre em investimentos”, afirmou. “O continente não está apenas a pedir ajuda, está a oferecer respostas. A energia não é apenas um bem público — é um motor para a criação de empregos, desenvolvimento industrial e transformação económica.”
De acordo com Gatete, mais de 600 milhões de africanos continuam sem acesso à eletricidade. A situação agrava-se com o crescimento populacional acelerado, a urbanização e as ambições industriais crescentes, tornando urgente um novo modelo de financiamento para impulsionar a transição energética no continente.
“Enquanto o mundo discute transição energética, grande parte de África continua presa à privação de energia”, sublinhou, ilustrando o problema com crianças que estudam à luz de velas, clínicas sem eletricidade e meios de subsistência limitados.
O responsável defendeu um novo acordo global de financiamento energético, centrado em inovação, fortalecimento das infraestruturas elétricas e construção de indústrias de energia limpa, de forma a beneficiar tanto as populações como o planeta.
Gatete reiterou que a transformação energética africana deve ser colocada no centro da agenda global, não apenas como uma prioridade climática, mas como instrumento de crescimento sustentável, justiça económica e prosperidade partilhada.
O Fórum Político de Alto Nível das Nações Unidas é a principal plataforma para monitorizar o progresso dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A edição deste ano reuniu governos, agências da ONU e partes interessadas para debater soluções aos desafios estruturais globais.