O humorista angolano Gilmário Vemba foi impedido de entrar em Moçambique no domingo, 20 de julho, por ter tentado aceder ao país com um visto de turismo, quando na verdade se preparava para participar num espetáculo cultural remunerado, revelou hoje o diretor-geral do Serviço Nacional de Migração (Senami), Zainedine Danane, segundo noticiou a Lusa.

Além de Vemba, foram também recusados o acesso ao território moçambicano o comediante português Hugo Sousa, o brasileiro Murilo Couto e um produtor português, todos integrantes do espetáculo “Tons de Comédia”, marcado para as 17h do mesmo dia no Centro Cultural China Moçambique, em Maputo. O evento, que já contava com bilhetes esgotados, foi cancelado.
“Vieram ao país, mas não obedeceram aos critérios pelos quais vinham. Porque vinham para dar um espetáculo. É uma atividade cultural”, explicou Danane à margem das celebrações dos 50 anos do Senami, em Maputo.
Segundo o responsável, os artistas chegaram ao Aeroporto Internacional de Maputo com a intenção de obter vistos de turismo, emitidos na fronteira, mas a legislação moçambicana vigente desde 2023 proíbe que esse tipo de visto seja usado para atividades remuneradas. O Senami detetou a irregularidade e impediu a entrada dos comediantes, que regressaram hoje aos seus países num voo da TAP.
Gilmário Vemba, num vídeo transmitido em direto nas redes sociais a partir do aeroporto, lamentou o sucedido e anunciou o cancelamento do espetáculo, informando que todos os bilhetes seriam reembolsados. “Infelizmente, não vamos conseguir fazer o espetáculo”, disse, acrescentando que aguardava desde as 14h pela entrada no país, sem conhecer os motivos do impedimento.
Zainedine Danane explicou ainda que o promotor do espetáculo deveria ter solicitado previamente uma credencial junto ao Ministério da Cultura moçambicano, documento necessário para obtenção do visto cultural. “Não tendo solicitado esta credencial, é como se esta atividade não existisse. E como é que vais proferir um espetáculo se quem devia autorizar não tem conhecimento?”, questionou.
No caso do brasileiro Murilo Couto, foi referido que este submeteu um pedido de visto de negócios a 15 de junho, mas não respondeu a um pedido posterior de documentação adicional. Mesmo que aprovado, o visto de negócios não permitiria a realização de espetáculos culturais, esclareceu o Senami.
Zainedine Danane garantiu que não houve qualquer medida administrativa extraordinária ou política no processo: “Tudo é na base da lei. Não há nada que nós estejamos a inventar.”
Entretanto, o episódio levantou polémica nas redes sociais. Dinis Tivane, assessor do político da oposição Venâncio Mondlane, sugeriu que Gilmário Vemba terá sido impedido de entrar no país por motivos políticos, devido a alegada proximidade com Mondlane. Os dois haviam partilhado publicamente, no início de julho, um encontro em Lisboa, exaltando a expressão “Anamalala” — um acrónimo usado pelo político como símbolo de protesto e oposição à Frelimo.
Apesar da especulação, as autoridades moçambicanas insistem que a recusa de entrada se deve exclusivamente a irregularidades na documentação.
Gilmário Vemba já tinha atuado em Moçambique anteriormente, sem qualquer incidente ou entrave.