Luanda, 9 de Julho de 2025 – Um grupo de ativistas angolanos denunciou hoje alegadas intimidações por parte da Polícia Nacional, que terá tentado impedir a realização de uma conferência de imprensa convocada para reafirmar a realização da marcha de protesto contra o aumento do preço dos combustíveis e dos transportes, marcada para este sábado, em Luanda.

O encontro com a imprensa, organizado pelo Movimento Social contra o Decreto que aprova o Reajuste do Preço do Combustível, decorreu no Largo Cesário Verde, bairro Vila Alice, em Luanda, mas foi antecedido por momentos de tensão, após a chegada de agentes da polícia que exigiram a remoção de um dístico com a mensagem do protesto.
“Estamos aqui com todos os jovens para esta conferência de imprensa e estamos com um problema. A polícia já veio para tentar impedir que se faça uma conferência de imprensa. Os jovens já receberam uma carta do Governo a aceitar a marcha e a polícia está a vir impedir. Temos que parar com isso”, afirmou a ativista Laura Macedo, em transmissão ao vivo nas redes sociais.
O clima tornou-se ainda mais tenso quando os agentes insistiram na retirada do cartaz com os dizeres: “Combustível sobe, a vida para! O povo não aguenta mais!”, o que gerou protestos de vários ativistas presentes no local.
Marcha tem autorização do Governo Provincial
Segundo os organizadores, o Governo Provincial de Luanda (GPL) já autorizou a realização da marcha. Em ofício partilhado durante a conferência de imprensa, o GPL declarou “não haver inconveniente” na manifestação, recomendando apenas que os promotores estabelecessem contacto com o Comando da Polícia para articulação da segurança e do trajeto.
Contudo, os ativistas acusam o Comando Provincial da Polícia de querer alterar o ponto inicial da marcha, de frente ao Mercado de São Paulo para o Largo do Cemitério da Santa Ana, o que, segundo o ativista Adilson Manuel, constitui “um atropelo às regras administrativas”.
“Nós entendemos que devemos cumprir a lei e marchar nos termos do nosso itinerário sem mudar a rota”, assegurou Adilson, sublinhando que a marcha será “pacífica e ordeira”.
Reações críticas à atuação policial
O ativista Tanaice Neutro também repudiou a atuação da polícia, acusando o Presidente da República de insensibilidade face às dificuldades da população. “Não estou a entender o que é que João Lourenço quer com o povo. Esta polícia que só cumpre ordens superiores também está a passar mal, porque também circula de táxi”, afirmou.
A manifestação, marcada para sábado, pretende contestar os aumentos das tarifas dos transportes públicos, na sequência da subida do preço do gasóleo, que passou de 300 para 400 kwanzas por litro no dia 4 de julho. As novas tarifas fixaram-se em 300 kwanzas por viagem nos táxis coletivos (candongueiros) e 200 kwanzas nos autocarros urbanos.
Até ao momento, a Polícia Nacional ainda não reagiu oficialmente às denúncias. A agência Lusa tentou obter esclarecimentos junto do porta-voz da corporação, sem sucesso.
Lusa