O primeiro-ministro da China, Li Qiang, defendeu esta segunda-feira que os países do bloco BRICS devem assumir um papel de liderança na reforma do sistema de governação global, num mundo marcado por conflitos, mudanças geopolíticas profundas e crescente ineficácia das instituições multilaterais.

Durante a sua intervenção na 17.ª cimeira de chefes de Estado e de Governo do BRICS, que decorre no Rio de Janeiro, Li Qiang representou o Presidente Xi Jinping, ausente pela primeira vez de um encontro do grupo, destacando o “valor contemporâneo” da visão chinesa para a governação global, assente na igualdade entre nações, respeito mútuo e solidariedade.
“As leis e a ordem internacionais enfrentam sérios riscos, num cenário global marcado por mudanças sem precedentes em mais de um século”, alertou o primeiro-ministro chinês.
Li apelou à resolução pacífica de conflitos, reforçando a necessidade de diálogo multilateral baseado na justiça e na moralidade. Sublinhou que os países dos BRICS — que incluem Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros cinco membros do Sul Global — devem estar na linha da frente da cooperação para o desenvolvimento e desempenhar um papel mais ativo na construção de consensos internacionais.
Como parte do reforço do compromisso chinês com o bloco, Li Qiang anunciou:
- a criação de um Centro de Investigação China–BRICS, dedicado às chamadas “novas forças produtivas de qualidade”, com enfoque em inovação tecnológica e economia digital;
- um programa de bolsas para atrair talentos em setores estratégicos, como indústria, telecomunicações e tecnologia.
“É essencial que os nossos países promovam a inclusão, o intercâmbio e a aprendizagem mútua entre civilizações”, frisou o governante.
A intervenção de Li Qiang ocorreu no segundo e último dia da cimeira, marcada pelas ausências dos presidentes da China e da Rússia, embora Vladimir Putin tenha participado por videoconferência. A declaração final do primeiro dia, composta por 126 pontos, condenou o protecionismo, apelou a reformas urgentes na ONU, Banco Mundial e FMI, e reiterou o objetivo de fortalecer os mecanismos de pagamento e comércio alternativos ao dólar.
O BRICS reafirma-se assim como um pólo estratégico do Sul Global, com ambições claras de reestruturação da ordem mundial e defesa de um multilateralismo mais representativo e equitativo.

