Sexta-feira, 18 de Julho, 2025

O seu direito à informação, sem compromissos

Pesquisar

Caça furtiva e conflitos com comunidades mataram 16 elefantes e 10 pessoas nos últimos seis anos em Angola

A caça furtiva e o conflito entre comunidades humanas e elefantes continuam a representar uma ameaça séria à conservação da fauna selvagem em Angola, com o registo, nos últimos seis anos, da morte de dez pessoas e de dezasseis elefantes.

Caça furtiva e conflitos com comunidades mataram 16 elefantes e 10 pessoas nos últimos seis anos em Angola

A informação foi avançada esta quinta-feira pelo diretor executivo da Fundação Kissama, Vladimir Russo, à margem de um workshop sobre o estado e conservação dos elefantes-da-floresta, uma das espécies existentes no país. O encontro, promovido pela Fundação Kissama em parceria com o Instituto Nacional da Biodiversidade e Conservação, visou discutir soluções para a proteção destes mamíferos, considerados criticamente ameaçados.

Desde 2018, a Fundação Kissama tem vindo a implementar o Projeto Nzau, voltado para a conservação dos elefantes-da-floresta, com o objetivo de identificar as zonas de presença desta espécie e propor medidas concretas de conservação. De acordo com Vladimir Russo, é essencial compreender a distribuição geográfica dos elefantes, sobretudo nas províncias de Cabinda, Uíje, Cuanza Norte e Bengo, e identificar os locais onde há maior conflito com as comunidades humanas. O objetivo é delimitar áreas de conservação que garantam a separação entre os animais e as populações locais, reduzindo o risco de confrontos.

Para alcançar este objetivo, o projeto tem recorrido a diversas técnicas, como a colocação de coleiras com GPS para rastreamento, análises de ADN para confirmar a espécie dos elefantes, e a expansão de uma rede de guardiões comunitários que fornecem informações sobre o paradeiro e comportamento dos animais. No entanto, os desafios permanecem consideráveis. Entre as principais ameaças destacadas pelo ambientalista estão a desflorestação acelerada, causada pela produção de carvão, corte de madeira e agricultura, atividades que invadem os habitats naturais dos elefantes e os obrigam a deslocar-se para zonas habitadas.

A falta de ordenamento do território é apontada como um dos principais fatores que agravam o conflito homem-elefante. De acordo com Vladimir Russo, muitos dos confrontos ocorrem em áreas que coincidem com rotas migratórias dos elefantes, atualmente ocupadas por lavras, residências ou explorações agrícolas. Além disso, a caça furtiva continua a ser uma ameaça grave. Desde 2019, pelo menos 16 elefantes foram mortos, sendo mais de metade dos casos atribuídos diretamente à caça ilegal para a recolha de marfim. Houve também registos de mortes por atropelamento, conflitos em lavras e outros casos inconclusivos. Em muitos dos episódios investigados, o marfim já havia sido retirado do local antes da chegada das autoridades.

Vladimir Russo alertou que o marfim angolano, proveniente tanto de elefantes-da-floresta como de elefantes de savana, é maioritariamente traficado para países asiáticos como a China, o Vietname e Hong Kong. Embora existam apreensões no Aeroporto Internacional de Luanda, há também indicações de que o marfim sai pelas fronteiras com a Namíbia e a Zâmbia, utilizando Angola como corredor de tráfico. O diretor da Fundação Kissama reconheceu os esforços em curso por parte do Ministério do Ambiente, do Serviço de Investigação Criminal (SIC) e das autoridades alfandegárias para travar este comércio ilegal, mas sublinhou que os casos continuam a ser numerosos, com Angola a funcionar como ponto de trânsito e também como fonte de fornecimento.

Por sua vez, o chefe do departamento da Área de Conservação Ambiental do Instituto Nacional da Biodiversidade e Conservação, Noé Pinto, referiu que ainda não existem dados concretos sobre a população de elefantes-da-floresta em Angola, devido à escassez de meios para sobrevoar e monitorizar as florestas. Em relação aos elefantes de savana, o último censo realizado em 2022 contabilizou 5.983 indivíduos, distribuídos pelos parques nacionais do Luengue-Luiana, Mavinga, Mupa, Bicuar e Kissama, estando atualmente em curso um novo levantamento populacional.

Lusa

×
×

Cart