O Presidente da República de Angola e Presidente em exercício da União Africana, João Lourenço, voltou a fazer ouvir a voz de África na 4ª Conferência da ONU sobre Financiamento para o Desenvolvimento, que decorre em Sevilha, Espanha. Durante um debate em painel à margem da cimeira, sob o tema “Uma Mudança de Paradigma para Soluções Lideradas pelos Países para os Desafios do Nosso Tempo”, o estadista angolano defendeu um novo paradigma assente no investimento soberano em sistemas de saúde resilientes e inclusivos, alinhado com as agendas da União Africana e das Nações Unidas.

Falando de improviso, João Lourenço sublinhou que não há desenvolvimento sem saúde, destacando que a pessoa humana deve estar no centro de todas as políticas públicas. “Tudo isso não pode acontecer se não cuidarmos da pessoa humana”, afirmou, referindo-se aos pilares essenciais para o progresso — capital, investimento, tecnologia e infra-estruturas — que só se tornam efectivos se o cidadão estiver saudável e com acesso garantido a cuidados médicos e medicamentosos.
Referindo-se aos desafios enfrentados pelo continente africano, o Chefe de Estado angolano destacou os impactos negativos dos conflitos armados, étnicos e religiosos, além da prevalência de doenças negligenciadas e pandemias como a cólera, a varíola, o MPox e a Covid-19. Defendeu, por isso, que África deve estar preparada para responder com autonomia a futuras crises sanitárias, investindo na produção local de vacinas e medicamentos.
“Ficámos 100 por cento dependentes de outros produtores”, recordou, aludindo à experiência da Covid-19, e apelou à criação de capacidades industriais no sector da Saúde, evitando repetir a situação de vulnerabilidade vivida durante a pandemia.
Angola, segundo o Presidente, tem feito a sua parte. Nos últimos sete anos, o país passou de 2.612 para 5.958 unidades hospitalares e aumentou em 46% a força de trabalho do sector da Saúde, além de implementar um plano para formar 38 mil profissionais até 2028. Lourenço sublinhou, no entanto, que muitos destes investimentos têm sido feitos com recurso a financiamento externo caro e de difícil reembolso, o que penaliza ainda mais países já endividados.
No plano continental, o Presidente reafirmou o seu compromisso com o CDC África (Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças), ao qual Angola já contribuiu com cinco milhões de dólares este ano. Considera que o CDC desempenha um papel crucial na coordenação da resposta sanitária do continente e no fortalecimento das suas capacidades de produção.
Na sua conclusão, João Lourenço elogiou a Conferência por reconhecer o papel do investimento soberano no desenvolvimento e apelou aos doadores internacionais e contribuintes das Nações Unidas a reforçarem o financiamento para a saúde pública global. “A doença nunca há-de acabar, mas que seja controlada e permita que os povos do mundo possam, com saúde, dar um maior contributo ao desenvolvimento económico sustentável que todos nós pretendemos”, concluiu.