O Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE) anunciou, nesta segunda-feira, a rescisão formal do contrato de gestão da fábrica têxtil Comandante Bula (ex-SATEC), localizada no Dondo, município de Cambambe, província do Cuanza-Norte. O contrato havia sido celebrado com a empresa angolana Carrinhos, através da sua subsidiária Textaf, no âmbito do Programa de Privatizações (PROPRIV).
A assinatura da rescisão foi formalizada pelo presidente do Conselho de Administração do IGAPE, Álvaro Fernão, e pelo administrador da Textaf, Nuno Andrade. Com este acto, a unidade industrial, uma das mais emblemáticas do sector têxtil angolano, retorna à esfera do Estado, após dois anos sob gestão privada.
Em declarações à imprensa, Álvaro Fernão esclareceu que a decisão decorre da necessidade de garantir o funcionamento eficaz da fábrica e o cumprimento dos objectivos estratégicos para os quais foi criada. “A fábrica volta para a esfera pública, na sequência da avaliação feita quanto ao desempenho da entidade gestora, e atendendo às dificuldades operacionais registadas nos últimos anos”, afirmou.
A unidade enfrentava sérias limitações operacionais. Desde 2021, a falta de insumos químicos impediu o funcionamento das secções de tingimento e acabamento, o que resultou na acumulação de cerca de 200 toneladas de tecidos em bruto, impossibilitados de serem comercializados ou transformados. A ausência de produção contínua comprometeu não apenas a sustentabilidade financeira da fábrica, como também os objectivos de substituição de importações e criação de empregos na região.
A fábrica Comandante Bula foi inicialmente concessionada, em 2021, à empresa zimbabueana Baobab Cotton Group, por um período de 15 anos, com opção de compra. Contudo, em 2022, a gestão passou para o grupo Carrinhos, através da Textaf, sem que os problemas estruturais da unidade fossem resolvidos.
Nos últimos meses, o Ministério da Defesa Nacional manifestou interesse em utilizar a produção da Comandante Bula para abastecer as Forças Armadas Angolanas, no quadro de uma estratégia de redução das importações de bens essenciais. No entanto, tal projecto não pôde avançar devido à paralisia da fábrica.
Com a rescisão do contrato, o IGAPE deverá agora definir os próximos passos para a reactivação da unidade, não estando excluída a possibilidade de um novo concurso para a sua concessão ou uma gestão directa pelo Estado. O objectivo, segundo fontes institucionais, é assegurar que a infraestrutura cumpra o seu papel na diversificação da economia, no fomento da indústria nacional e na geração de postos de trabalho.
A fábrica Comandante Bula foi reabilitada no âmbito da estratégia de revitalização da indústria têxtil nacional, que incluiu igualmente as fábricas África Têxtil (em Benguela) e Textang II (em Luanda), todas com investimentos significativos financiados através de linhas de crédito externas.