Um jovem identificado como Gonçalves António Federico foi recentemente detido pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC) na sua residência, após a divulgação de um vídeo nas redes sociais no qual proferia declarações consideradas sensíveis sobre a situação política africana, especialmente em relação ao presidente de transição do Burkina Faso, Ibrahim Traoré.

No vídeo, amplamente partilhado nas plataformas digitais, o jovem apela à união do povo africano contra aquilo que chama de “opressão do Ocidente” e faz menção a possíveis ataques a embaixadas ocidentais em caso de atentado contra a vida de Traoré:
“Vamos atacar as embaixadas francesas e as embaixadas americanas. O Ocidente mata um africano que quer libertar a África. A África é nossa.”
Durante a abordagem dos agentes, o jovem demonstrou surpresa:
“Gonçalves, sabes porquê que nós estamos aqui em tua casa?”
“Não, agora estou a saber, eu não tenho conhecimento” – respondeu ele, indicando que suspeitava apenas que fosse devido ao vídeo em causa.
No seu discurso, Gonçalves critica a actuação dos Estados Unidos e países europeus em África, acusando-os de explorar os recursos naturais e de promoverem instabilidade política nos países africanos. Em referência à morte de Muammar Kadafi, ex-líder líbio, afirmou:
“Mataram o cadáver para eles aproveitarem e levarem o petróleo da Líbia, o ouro, o urânio, a tromalina, o diamante… Todos os recursos minerais estão a levar.”
Ao longo de quase nove minutos de gravação, o jovem reitera várias vezes que o povo angolano está solidário com o Burkina Faso e recusa-se a aceitar qualquer ingerência externa sobre líderes africanos:
“O povo angolano está com o Ibrahim Traoré. Está com o povo do Burkina Faso. Nós estamos atentos. O João Lourenço, o Wembley estão a apoiar o Trump que quer bombardear o Burkina Faso. E nós, como angolanos, não vamos deixar.”
Apesar do conteúdo inflamado do vídeo, várias vozes surgiram nas redes sociais em defesa do jovem, considerando que não houve incitamento directo à violência, uma vez que as ameaças são condicionadas a um cenário hipotético.
“Se o jovem disse que, se o Ocidente eliminar Traoré, nós também vamos invadir as embaixadas… Ao deterem este jovem, estão claramente a admitir que vão eliminar Traoré” – diz uma das reações que circula nas plataformas digitais, questionando a legitimidade da detenção.
Outros criticam a actuação das autoridades por considerarem que ela visa agradar ao poder político e reprimir a liberdade de expressão:
“Que vergonha para a África prender um jovem desta natureza. É aquilo que eu disse anteriormente: nenhum país do Ocidente tem autonomia de mexer com um africano. Se ele é africano, é com os africanos que deve prestar contas.”
Até ao momento, o SIC ainda não apresentou oficialmente as acusações imputadas ao jovem, mas fontes extraoficiais indicam que a investigação poderá estar a ser conduzida sob suspeita de incitação à violência e ameaça à segurança do Estado.
Enquanto isso, nas redes sociais, cresce o movimento em defesa da libertação de Gonçalves António Federico, com vários internautas a partilharem o vídeo como forma de protesto e a apelar à união africana, como o próprio jovem exclamou:
“Resistência máxima. O povo angolano está com o Ibrahim Traoré. Vamos nos unir e libertar a África.”