Os governos da África do Sul e de Moçambique anunciaram hoje o reforço de medidas de segurança para mitigar o impacto das manifestações de contestação eleitoral em Moçambique, considerando que existe “risco de insegurança alimentar e energética”.
Em conferência de imprensa conjunta no final de um encontro de alto nível de quase três horas, em Malelane, na província sul-africana de Mpumalanga, os dois países acordaram medidas para “mitigar conjuntamente a perturbação” nos postos de entrada, “particularmente Lebombo e Ressano Garcia”, afirmou o ministro das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, Ronald Lamola.
“Os ministros concordaram que ambos os países se esforçarão por proteger e garantir a infraestrutura para a facilitação do comércio e a colaboração contínua para garantir o mínimo de perturbação para a integração regional, incluindo as cadeias de valor transfronteiriças associadas”, adiantou o governante sul-africano.
Por seu lado, o ministro do Interior moçambicano Pascoal Ronda, que chefiou a delegação moçambicana, disse que “a reunião salientou que estas perturbações tiveram um impacto negativo significativo nas economias de ambos os países e na livre circulação de pessoas e mercadorias entre os dois países”.
“Muitas empresas sofreram perdas em resultado da interrupção do comércio, se a situação persistir existe um grande risco de insegurança alimentar e energética”, vincou o governante moçambicano.
Questionado pelos jornalistas, Pascoal Ronda referiu também que a atual situação política pós-eleitoral que o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975), enfrenta foi igualmente “apreciada” no encontro de alto nível com Pretória.
“Foi aqui apreciada porque não havia outra maneira se não tocar no que está a acontecer em Moçambique, que também afeta economicamente a África do Sul, portanto, nós fizemos aqui uma apreciação geral do que está a acontecer, que decorre das eleições decorridas, e essencialmente depois dos 10% da contagem efetuada pela CNE”, salientou aos jornalistas na conferência de imprensa transmitida nas redes sociais pelo Governo sul-africano.
“Nós falámos disso, explicámos, clarificámos, e neste momento aguardamos que o Conselho Constitucional faça o seu juízo final com base nos dados disponíveis para que comunique a todos os moçambicanos, à região e ao mundo, qual é o lugar histórico-político de cada um dos candidatos e de cada um dos partidos políticos, nos próximos dias estamos atentos para ouvir este resultado”, afirmou o ministro do Interior de Moçambique.
No encontro, participaram além do chefe da diplomacia sul-africana, os responsáveis dos Ministérios da Defesa, do Interior e do Comércio e Indústria, bem como dos Transportes, assim como da Autoridade Tributária (SARS, na sigla em inglês) e da Autoridade de Gestão de Fronteiras (BMA, na sigla em inglês) da África do Sul.
A delegação do Governo de Moçambique foi liderada pelo ministro do Interior, Pascoal Ronda, e integrou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Manuel Gonçalves, o ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, assim como o primeiro vice-comissário da Polícia, António Bachir, o diretor geral do Serviço Nacional de Migração (SENAMI), Mariano João Arlindo, e a diretora de Comércio Externo do Ministério da Indústria, Claire Mateus Zimba, segundo disse fonte do Governo sul-africano à Lusa.
Pelo menos 130 pessoas morreram e 385 outras foram baleadas nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, segundo a Plataforma Eleitoral Decide, que monitoriza os processos eleitorais em Moçambique.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane tem convocado protestos em contestação dos resultados das eleições de 09 de outubro anunciados a 24 desse mês pela Comissão Nacional Eleitoral e que deram a vitória à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) nas legislativas e ao seu candidato, Daniel Chapo, nas presidenciais.
Lusa