O Presidente senegalês, Bassirou Diomaye Faye, disse hoje, em entrevista à AFP, que a presença de bases militares francesas no território do seu país é incompatível com a soberania nacional.
“O Senegal é um país independente, é um país soberano e a soberania não pode ser conciliada com a presença de bases militares num país soberano”, afirmou Bassirou Diomaye Faye, em entrevista concedida no palácio presidencial, em Paris, onde se reuniu com o Presidente francês.
Sessenta e quatro anos após a independência, “as autoridades francesas devem considerar a possibilidade de ter uma parceria despojada desta presença militar, mas que seja uma parceria rica, uma parceria frutuosa, uma parceria privilegiada e global, como temos com muitos outros países”, afirmou.
O Presidente senegalês, que tomou posse em abril, depois de ter sido eleito com a promessa de soberania e do fim da dependência do estrangeiro, garantiu que não se trata de um ato de “rutura”.
“A presença ou ausência militar não deve ser equiparada a uma rutura”, afirmou.
Como exemplo referiu a existência de relações entre o Senegal e países como a China, a Turquia, os Estados Unidos e a Arábia Saudita. “Todos estes países não têm bases militares no Senegal”, disse.
Faye referiu uma próxima atualização da doutrina de cooperação militar, o que “significa, obviamente, que deixará de haver bases militares de qualquer país no Senegal, mas significa também que haverá outros desenvolvimentos na cooperação militar com os vários países que ainda pretendem mantê-la [a cooperação] com o Senegal”.
Na entrevista, Faye afirmou que Emmanuel Macron reconheceu, numa carta, que as forças coloniais francesas cometeram um “massacre” em Thiaroye, perto de Dakar, a 01 de dezembro de 1944.
“Recebi hoje uma carta do Presidente Emmanuel Macron na qual ele reconhece que foi um massacre, muito claramente, sem qualquer ambiguidade sobre os termos”, disse.
Faye congratulou-se com “um passo importante” dado pelo dirigente francês, que “pediu desculpa” na carta por não poder estar presente nas comemorações do 80.º aniversário do massacre, previstas para domingo em Thiaroye, devido a problemas de agenda.
“A França deve a si própria reconhecer que, nesse dia, o confronto entre soldados e carabineiros que exigiam o pagamento integral do salário que lhes era devido desencadeou uma cadeia de acontecimentos que conduziu a um massacre”, diz a carta de Macron, consultada pela AFP.
Faye evocou a possibilidade de um futuro pedido de desculpas por parte da França.
“Reconhecer que perpetuámos um massacre deve, obviamente, ter o efeito de reparar. Sem exagerar, pensamos que é a coisa mais natural a fazer”, afirmou.
Mais de 1.600 fuzileiros – antigos prisioneiros de guerra alemães que tinham participado nos combates de 1940 – foram reunidos em Thiaroye no final de 1944. A 01 de dezembro, duas semanas após a sua chegada ao campo e enquanto exigiam o pagamento dos seus salários em atraso e de vários bónus e subsídios de combate, as forças coloniais dispararam sobre eles.
Na altura, as autoridades francesas admitiram que pelo menos 35 pessoas foram mortas. Vários historiadores estimam que o número de vítimas foi muito superior, chegando a várias centenas.
Lusa