Os Estados Unidos indicaram hoje não ter qualquer indicação de que a Rússia esteja a preparar-se para usar armas nucleares dentro da Ucrânia, reiterando que a atualização da doutrina nuclear russa faz parte de uma “retórica irresponsável”.
“Não estamos surpreendidos com a atualização da doutrina nuclear da Rússia. É algo que nas últimas semanas eles têm indicado que pretendem fazer. É a mesma retórica irresponsável que francamente vimos antes nos últimos dois anos”, disse a vice-porta-voz do Pentágono, Sabrina Singh.
A representante do Departamento de Defesa sublinhou que embora os Estados Unidos tencionem monitorizar as atividades russas, não têm “nenhuma indicação de que a Rússia esteja a preparar-se para usar uma arma nuclear dentro da Ucrânia” e que não acreditam que qualquer mudança na postura nuclear deva ser feita nos EUA.
O Presidente russo, Vladimir Putin, assinou hoje o decreto que alarga a possibilidade de utilização de armas nucleares, depois de os Estados Unidos terem autorizado Kiev a atacar solo russo com mísseis de longo alcance fornecidos por Washington.
A Casa Branca condenou hoje a “retórica irresponsável” da Rússia após a revisão da sua doutrina nuclear alargando a possibilidade de utilização de armas atómicas, mas insistiu que tal não exige uma revisão da doutrina norte-americana.
“Esta é mais uma demonstração da retórica irresponsável que a Rússia tem demonstrado nos últimos dois anos”, disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional norte-americano à agência noticiosa francesa AFP.
“Não ficámos surpreendidos” com o anúncio de que a Rússia iria adaptar a sua doutrina nuclear, sublinhou o porta-voz, considerando que Moscovo “tem vindo a assinalar a sua intenção de o fazer” há várias semanas.
“Como não vimos qualquer alteração na postura nuclear da Rússia, não vemos qualquer razão para ajustar a nossa própria postura ou doutrina nuclear em resposta às declarações de hoje da Rússia”, acrescentou o porta-voz.
Washington autorizou Kiev a utilizar os seus mísseis de longo alcance para atingir alvos na Rússia, que já foram utilizados num ataque noturno, o primeiro em mil dias de invasão russa.
A Casa Branca afirmou que a decisão dos Estados Unidos foi tomada em resposta ao envio de tropas norte-coreanas para combaterem ao lado da Rússia contra a Ucrânia, que o porta-voz descreveu como uma “escalada significativa”.
“Avisámos que os Estados Unidos iriam responder. Não vou entrar em pormenores sobre essa resposta hoje”, continuou.
O “documento de planeamento estratégico” assinado pelo Presidente russo inclui a “posição oficial sobre a dissuasão nuclear”, “define os perigos e ameaças militares contra os quais se pode atuar com dissuasão nuclear” e garante uma resposta à “agressão” de “um potencial inimigo”, quer contra a Rússia, quer “contra os seus aliados”.
Putin já havia advertido, no final de setembro, que a Rússia poderia usar armas nucleares no caso de um “lançamento massivo” de ataques aéreos contra o país e que qualquer ataque realizado por um país não nuclear, como a Ucrânia, mas apoiado por uma potência com armas atómicas, como os Estados Unidos, poderia ser considerado uma agressão “conjunta”, exigindo potencialmente o uso de armas nucleares.