Mais de 150 famílias ficaram desabrigadas após a demolição de mais de 90 casas no bairro Zango 3, município de Viana, durante a noite de domingo (20). O ato, que envolveu agentes da Polícia Nacional, gerou revolta e medo na comunidade local, que acusa os policiais de estarem diretamente envolvidos em ações ilegais de despejo.
De acordo com os moradores, um subinspetor da UPIP, identificado apenas como “o senhor Hélio”, esteve à frente das operações de demolição. “Ele chega fardado, armado e nos amedronta. Diz que pode fazer o que quiser e dispara tiros para nos intimidar”, relatou um dos residentes, que viu a sua casa ser destruída.
O bairro, que existe há mais de dois anos, foi erguido após os moradores terem recebido autorização da administração de Viana para construírem suas residências. “Compramos o terreno e fomos à administração para verificar se havia algum impedimento. Disseram-nos que estava tudo regular, e até pagamos pela licença de construção”, explicou um morador. Porém, meses depois, os residentes receberam uma notificação do Serviço de Investigação Criminal (SIC), alegando que um suposto proprietário reivindicava o terreno.
Os conflitos agravaram-se quando agentes do SIC, juntamente com indivíduos que alegadamente reivindicavam o espaço, invadiram o bairro. “Eles vieram com uma equipa do SIC, bateram, prenderam e disseram que o terreno pertence ao tal proprietário”, disse outro residente, que pediu anonimato por medo de represálias.
Os moradores procuraram ajuda na esquadra local do Zango 8000, que interveio e prendeu alguns dos invasores. No entanto, a presença contínua de agentes armados, supostamente ligados ao caso, mantém a tensão alta. “À noite, eles voltaram e começaram a demolir as casas novamente. Ligamos para a polícia, mas nada foi resolvido. Um dos agentes ainda veio armado ameaçar quem ficasse no terreno, dizendo que o quintal é dele”, afirmou outro morador.
A comunidade acusa os policiais envolvidos de terem ligações a altas patentes dos órgãos de defesa e segurança, tornando a situação ainda mais difícil de resolver. “Esse agente, que diz ser amigo de um alto funcionário, precisa ser preso. Ele está a manchar a imagem da corporação”, denunciou um dos afetados.
Enquanto as investigações seguem e o processo corre seus trâmites legais, as mais de 150 famílias esperam uma solução urgente das autoridades competentes, enquanto permanecem ao relento, sem saber se ou quando poderão recuperar suas casas.