A vice-presidente norte-americana Kamala Harris admitiu trabalhar para ganhar o voto do eleitorado masculino negro e não menosprezar nenhum eleitor, ao conceder uma rara e longa entrevista de campanha a três jornalistas da Associação Nacional de Jornalistas Negros.
“Acho que é muito importante não operar partindo da suposição de que os homens negros estão no bolso de alguém”, disse hoje a candidata democrata às presidenciais norte-americanas.
“Os homens negros são como qualquer outro grupo de eleitores. Você tem que ganhar o voto deles, então estou a trabalhar para ganhar o voto, não presumindo que vou tê-lo porque sou negra”, acrescentou.
Os eleitores negros do sexo masculino são tradicionalmente um dos grupos demográficos com maior inclinação democrata no país, mas os republicanos tentam fazer progressos nessa faixa, enquanto os democratas se preocupam com o enfraquecimento do entusiasmo nas urnas.
A entrevista de Harris em Filadélfia aconteceu apenas um mês após o comparecimento do ex-presidente e candidato republicano, Donald Trump, perante a mesma organização, que se tornou polémico por questões raciais e outros assuntos.
A entrevista com Trump abriu um capítulo na campanha em que o candidato republicano questionou repetidamente a identidade racial de Kamala Harris, alegando sem fundamento que ela “tornou-se negra” em algum momento da sua carreira profissional.
Desde então, Trump tem questionado repetidamente a identidade racial da rival democrata na campanha eleitoral.
Kamala Harris, filha de pai jamaicano e mãe indiana, repetidamente rejeitou os comentários de Trump e classificou-os como “o mesmo espetáculo de sempre”.
Durante o debate presidencial deste mês contra Trump, a vice-presidente considerou uma “tragédia” que o ex-presidente tivesse “tentado usar a raça para dividir o povo americano”.
Trump, juntamente com o seu companheiro de corrida eleitoral, o senador de Ohio JD Vance, e outros republicanos criticaram Harris por evitar amplamente entrevistas ou interagir oficialmente com jornalistas que cobrem os seus eventos de campanha.
Kamala Harris e o seu companheiro de corrida, o governador de Minnesota Tim Walz, deram uma entrevista conjunta à CNN no mês passado. A campanha democrata disse recentemente que ela irá focar-se mais na imprensa local, sendo que na semana passada concedeu a sua primeira entrevista a solo na televisão desde que se tornou a candidata presidencial democrata, respondendo a perguntas de uma estação de Filadélfia.
Indagada sobre se os norte-americanos estão melhores hoje do que há quatro anos, quando ela e o atual Presidente, Joe Biden, assumiram o cargo, Harris não respondeu diretamente à pergunta. Em vez disso, fez referência ao estado da economia durante a pandemia de covid-19 e mencionou os seus planos para tentar reduzir os custos de moradia e promoveu-se como uma “nova geração” de líderes.
Kamala Harris advogou que a sua candidatura oferece ao país uma oportunidade de “virar a página de uma era que, infelizmente, mostrou tentativas de alguns de incitar o medo para criar divisão no país”.
Na entrevista de Trump com a Associação Nacional de Jornalistas Negros, o magnata republicano criticou duramente os moderadores e arrancou vaias da plateia.
Kamala Harris tem evitado aparições na imprensa tradicional e, em vez disso, optou por concentrar-se em comícios, organização de base e envolvimento nas redes sociais, plataformas onde a vice-presidente pode evitar perguntas de jornalistas independentes sobre o seu histórico político e agenda proposta.
Lusa