Terça-feira, 23 de Dezembro, 2025

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Escritor Agualusa fala de “eventos estranhos” à volta da biografia de Chivukuvuku e opta por edição angolana

O autor angolano José Eduardo Agualusa lamentou uma série de “eventos estranhos” à volta da biografia do político Abel Chivukuvuku, recentemente lançada, acabando por recorrer ao escritor angolano Ondjaki para fazer uma nova edição do livro em Angola.

Escritor Agualusa fala de "eventos estranhos" à volta da biografia de Chivukuvuku e opta por edição angolana

Em declarações à Lusa, José Eduardo Agualusa apontou “uma sucessão de eventos estranhos” que começou quando o número de livros enviados para Angola não correspondeu ao que tinha sido pedido à editora.

“Eu sugeri 5.000 e continuo a achar que teria sido o número mais ajustado. Descubro, quando chego a Luanda, que tinham enviado apenas 500 exemplares, depois apareceram mais 200, 600 esgotaram logo no próprio dia [do lançamento, em 15 de novembro] e outros 100 o Ondjaki tinha conseguido pôr de parte para o lançamento no Huambo, senão nem sequer teria havido lançamento no Huambo”, adiantou.

Agualusa questionou também a ausência de representantes da editora do livro em Angola (a Plural, do grupo Porto Editora, tal como a Quetzal) no lançamento da biografia e outros eventos promocionais: “É de facto muito estranho, estou nisto há 34 anos e nunca me aconteceu”.

Segundo o autor, após ter contactado novamente a Plural para saber quantos exemplares iriam enviar mais, recebeu como resposta que seriam mais 500.

“Ou seja, depois de terem esgotado 600 exemplares no próprio lançamento enviam mais 500, o que me parece completamente absurdo (…) Nunca ouvi falar de nada assim, como é que há leitores a querer o livro e nós não conseguimos ter o livro à venda, é estranho”, destacou.

Descontente, o escritor decidiu então falar com Ondjaki, proprietário da editora Cacimbo para fazer uma edição angolana da biografia de Abel Chivukuvuku, ex-dirigente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), principal partido da oposição angolana, e da coligação CASA-CE, e que concorreu às últimas eleições angolanas pelas listas da UNITA por não ter conseguido legalizar o seu novo projeto político, PRA JÁ Servir Angola.

“Mas é claro que esta edição demora a fazer e há livros que não vamos vender devido a esta série de eventos estranhos”, lamentou, acrescentando que não recebeu nenhuma explicação por parte da Plural para o não envio dos livros que tinha pedido.

“Nunca falaram comigo, não sei quem são. Eu não sei o que se passa, ninguém me explicou”, frisou.

Contesta também o facto de os livros estarem agora a ser vendidos à Kiela (livraria de Ondjaki) ao preço de venda ao público em Portugal, em vez de ser aplicado o habitual desconto de livreiro, atingindo os 20 euros “um preço absurdo para Angola”.

O autor assinala que tinha já feito um acordo “muito difícil” para conseguir vender os livros a um preço mais acessível para o mercado angolano, prescindindo de parte das suas receitas para que os livros chegassem a mais leitores angolanos,

Afirmou ainda que a recetividade da biografia tem sido “muito boa”, declarando não ter sentido “qualquer tentativa de silenciamento” e “abertura total” nas atividades promocionais e entrevistas que tem dado neste âmbito.

“Para mim, é claro que se tivéssemos tido mais livros, mais teríamos vendido. Obviamente, os leitores angolanos ficaram prejudicados e eu, pessoalmente, como escritor, estou prejudicado”, reiterou.

À Lusa, Ondjaki manifestou-se satisfeito por editar um livro “que contribui para o debate social e político de Angola”.

“Estamos felizes por vir a fazer este livro, vamos fazer uma edição angolana, com capa angolana, vai ficar um livro bonito (…) Parece-nos desde já que é um sucesso de venda”, referiu.

Adiantou que estão a ser feitos “todos os esforços” para ter o mais breve possível a nova edição disponível, mas admite que só deverá acontecer no início do próximo ano.

“Neste momento, dado o câmbio e a nossa realidade social, o livro resulta muito caro. Ainda assim tem havido bastante procura, mas só as pessoas que tem poder de compra estão a adquirir este livro”, afirmou.

“Eu creio que vamos conseguir fazer bem melhor do que este preço, este é o nosso objetivo e o nosso compromisso”, declarou o responsável da Cacimbo, questionando “quando é que os livros serão tratados como um produto prioritário para que se chegue a um preço de custo e de venda mais acessível”.

A Lusa contactou a Porto Editora, proprietária da Plural Editores Angola, que remeteu esclarecimentos para mais tarde.

Lusa

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