Várias figuras de relevo do Partido Republicano permanecem em silêncio após uma comissão parlamentar que investiga o ataque ao Capitólio norte-americano ter recomendado na segunda-feira várias acusações criminais contra o ex-presidente Donald Trump.
No último verão, o Partido Republicano rapidamente se uniu a Trump logo depois de agentes federais terem apreendido documentos confidenciais na sua propriedade em Mar-a-Lago, na Florida.
Contudo, quatro meses depois, a intensidade e urgência parecem ter desaparecido – pelo menos por enquanto – depois de a comissão da Câmara dos Representantes que investigou durante 18 meses o ataque ao Capitólio de 06 de janeiro de 2021 acusar na segunda-feira o ex-presidente de vários crimes, incluindo incitamento à insurreição, conspiração para fraude e obstrução de ato do Congresso, encaminhando o processo ao Departamento de Justiça.
Os principais nomes dos Republicanos evitaram em grande parte comentar este encaminhamento criminal histórico na segunda-feira.
O líder Republicano do Senado, Mitch McConnell, foi uma das figuras do Partido que pediu “uma explicação imediata e completa” depois de o FBI executar o mandado de busca de agosto em Mar-a-Lago.
Na segunda-feira, McConnell disse aos jornalistas que tinha apenas uma “observação imediata” sobre a recomendação criminal: “Toda a nação sabe quem é o responsável por aquele dia”.
O senador Republicano Josh Hawley, que pediu a renúncia do procurador-geral Merrick Garland após a busca à mansão de Trump, ficou em silêncio sobre o encaminhamento da comissão, concentrando-se, em vez disso, nos supostos erros do FBI.
O governador de Maryland, Larry Hogan, um crítico de Trump que sugeriu que o ex-presidente provavelmente beneficiou – politicamente – da busca do FBI no verão, disse que Trump foi – pelo menos – parcialmente responsável pelo ataque mortal ao Capitólio.
“Nenhum homem está acima da lei”, disse Hogan à Associated Press pouco antes da votação da comissão.
As respostas divergentes são um sinal da rapidez com que o cenário político mudou para Trump quando enfrenta uma nova ameaça legal e monta uma terceira candidatura à Presidência norte-americana.
É uma mudança marcante para um partido que nos últimos seis anos se definiu, acima de tudo, pela sua lealdade incondicional a Trump em toda e qualquer circunstância.
A audiência de segunda-feira da comissão parlamentar, composta por sete Democratas e dois Republicanos críticos de Trump, marca provavelmente a tentativa final do Congresso de responsabilizar o ex-presidente pelo ataque ao Capitólio por centenas dos seus apoiantes, enquanto várias autoridades trabalhavam para certificar a vitória do Democrata Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020.
O encaminhamento criminal, que não é vinculativo, é o culminar de uma investigação de um ano que incluiu mais de 1.000 testemunhas, 10 audiências públicas televisionadas e mais de um milhão de documentos analisados.
A comissão, que o líder republicano da Câmara, Kevin McCarthy, boicotou e classificou como um “processo fraudulento”, será formalmente dissolvida em 03 de janeiro, após os Republicanos terem conquistado a maioria na Câmara dos Representantes.
Sempre desafiador, Trump previu que o encaminhamento criminal acabaria por benefeciá-lo.
“Essas pessoas não entendem que, quando vêm atrás de mim, pessoas que amam a liberdade se reúnem ao meu redor. Isso fortalece-me. O que não me mata, fortalece-me”, disse Trump na sua rede social, condenando a denúncia criminal como “uma tentativa partidária” de o afastar a si e “ao Partido Republicano”.
A votação desta semana ocorre apenas um mês após Trump ter lançado formalmente a sua campanha para a Casa Branca em 2024. O ex-presidente esperava que o seu estatuto de candidato anunciado lhe pudesse dar uma nova vantagem em muitos dos casos legais, ao mesmo tempo em que afastava possíveis adversários Republicanos nas primárias.
Tais esperanças ainda não se materializaram. As primeiras sondagens sugerem que o ex-presidente de 76 anos não tem possibilidades de vencer a nomeação para 2024, enquanto rivais Republicanos se preparam para concorrer contra ele.
Lusa