A Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD) criticou hoje a forma “impávida e serena” que o Presidente angolano e seu governo encaram a greve dos professores do ensino geral, que cumpre a segunda fase de paralisação, pedindo negociação séria.
A AJPD, organização não-governamental (ONG) angolana, afirma que tem acompanhado com muita preocupação e perplexidade o ambiente e o clima de divisão instalado no subsistema de ensino público em decorrência das reivindicações dos agentes da educação.
O Sindicato Nacional dos Professores (Sinprof) de Angola decretou greve nacional da classe, cuja primeira fase decorreu entre 23 e 30 de novembro de 2022, a segunda já está em curso, entre 12 e 16 de dezembro, e a segunda fase entre 03 e 31 de janeiro de 2023.
“Esperava-se do chefe do executivo e da sua equipa uma ação proativa na relação com o Sinprof e suas reivindicações, que quanto a nós são justas no essencial, ao invés da forma impávida e serena fazendo ouvidos de mercador face ao anúncio da paralisação”, refere a AJPD, face ao anúncio da preparação e convocação da greve.
A AJPD, em nota tornada pública, disse também que observa com “preocupação os vários atos e atentados que estão a ser cometidos pelo Governo angolano por meio dos seus diversos agentes, uns do Ministério da Educação e outros do Ministério do Interior, a coagirem os professores ao regresso às aulas”.
Vídeos e fotos de diferentes províncias de Angola circulam nas redes sociais dando conta que funcionários de limpeza e efetivos da segurança das escolas estariam a ministrar provas, desde segunda-feira, em consequência da ausência dos professores.
Há também relatos de alegados atos de coação e intimidação dos professores para regressarrem às escolas.
Segundo a ONG, atos do género registam-se em vários pontos de Angola, como foi “no município de Marimba, província de Malanje, onde o comandante municipal da Polícia Nacional em puro ato de intimidação proibiu os professores de se deslocarem para fora do município”.
“Em clara violação ao direito e liberdade de circulação. Este facto ocorreu na semana passada e circulam nas redes sociais áudios sobre o que aconteceu”, lê-se no comunicado.
A AJPD chamou igualmente a atenção aos pais e encarregados de educação para o facto de “o executivo angolano deixar o processo de ensino e aprendizagem aos cuidados de pessoas estranhas e alheias ao quotidiano dos alunos e do ensino”.
“Coincidência ou não, o facto é que no pretérito mês de outubro, um grupo de alunos, adolescentes, realizou uma marcha para reivindicar a falta de carteiras na sala de aula, tendo por este facto ocorrido a suspensão do professor Diavava Bernardo, supostamente, por ter orientado o referido protesto!”, realçou.
A AJPD apela ainda ao executivo angolano a “prestar maior atenção ao ensino em Angola, aos desafios apresentados pelo Sinprof, ínsitos no seu caderno reivindicativo, iniciando-se uma negociação séria e justa com vista a pôr fim” à paralisação.
Lusa