Membros da sociedade civil das 18 províncias angolanas vão monitorizar em tempo real as eleições de 24 de agosto, com o envolvimento de eleitores, observadores eleitorais e delegados, no âmbito do “Projeto Jiku”, anunciou hoje o ativista Luaty Beirão.
Segundo o ativista luso-angolano, as atas sínteses das assembleias de voto será um dos instrumentos alvo da monitorização da sociedade civil, uma ação que visa conferir o andamento do processo e retratar eventuais irregularidades.
“Nós vamos contar quer com cidadãos que vão estar a fazer fotografias das atas sínteses e que nos vão enviar, quer com os delegados de lista e funcionários membros de mesa da Comissão Nacional Eleitoral” (CNE), disse hoje à Lusa.
Luaty Beirão refere que a génese do ‘Projeto Jiku’, termo da língua angolana kimbundu truncado da palavra ‘Jikulomessu’, que significa ‘abra o olho’, surge de uma experiência de monitorização promovida nas eleições de 2012 e 2017 por um grupo de jovens da sociedade civil.
“Isso sempre aconteceu desde 2012. Ao saberem da existência de um projeto de monitoria paralela, as informações chegam de forma espontânea. Nós vamos incentivar isso e estamos a formar pessoas para isso”, frisou.
Mas, explicou, “além das atas sínteses, que são resultados de contagens das assembleias de voto, pode se dar da assembleia não ter tido delegados de lista credenciados para poderem assistir, ou observadores, que são 2.000 para 14 milhões de eleitores”.
“E, então, neste caso as atas sínteses não são o documento perfeito para uma contagem, mas se for apenas o que tivermos será o que será feito”, realçou.
O “Projeto Jiku” congrega uma rede de individualidades e organizações da sociedade civil nas 18 províncias do país e renasce com o movimento cívico Mudei, gerido pela associação cívica Handeka.
Para Luaty Beirão, a organização do projeto tem a “convicção e certeza” de que para além das fotografias dos eleitores nas assembleias de voto, “porque a afixação das atas é obrigatória, terá também atas de mesa e informação chegada dos próprios delegados de mesa da CNE”.
“Nós não vamos ter a totalidade dos votos, isso é certo, mas contamos ter uma proporcionalidade igual ou idêntica ou melhor da que tivemos em 2017 para ter resultados previstos ou pelo menos projeções”, notou.
O ativista e um dos coordenadores do projeto admitiu também que várias centenas ou milhares de cidadãos, formados localmente, estarão envolvidos neste processo de monitorização às eleições gerais de 24 de agosto nas 18 províncias angolanas.
A iniciativa conta com formadores em todas as províncias do país e a réplica da ação formativa a nível local vai depender da capacidade financeira dos organizadores para pagar os referidos agentes.
“Vai depender de quantas vezes eles podem ir aos bairros e municípios para explicar às pessoas o que se espera delas e como elas devem proceder, podemos estar a falar de várias centenas ou de vários milhares, vai depender agora da nossa capacidade de financiar a deslocação dessas pessoas dispostas a fazer o trabalho”, sublinhou.
“Quanto mais os agentes se mobilizarem no terreno, mais as pessoas serão alcançadas e mais elas saberão como procederem quando virem alguma irregularidade ou quando quiserem enviar a fotografia das atas sínteses”, rematou Luaty Beirão.
Angola realiza as quintas eleições gerais da história política do país em 24 de agosto próximo.
Oito partidos políticos e uma coligação de partidos já formalizaram as suas candidaturas junto do Tribunal Constitucional, cujo processo encerrou na passada semana, visando o sufrágio.
A CNE anunciou na última sexta-feira o início do processo de envio de convites a organismos e individualidades internacionais para observação eleitoral no país.
Lusa