A organização não-governamental (ONG) Save the Children voltou hoje a apelar aos doadores internacionais para prevenir a fome na Somália, Etiópia e Quénia, já lançado por dezenas de entidades humanitárias.
Segundo a organização, 14 milhões de pessoas estão em risco de fome nestes países africanos, cerca de metade das quais crianças, mas o número poderá aumentar para 20 milhões.
A crise alimentar resulta da grave seca que atravessa o Corno de África, das consequências da pandemia de Covid-19, do conflito armado, das infestações de gafanhotos e do aumento de preços fruto do conflito na Ucrânia, assuntos que foram discutidos esta terça-feira na Mesa Redonda de Alto Nível para a Seca no Corno de África, coorganizada pela União Europeia e o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitárias (OCHA, na sigla inglesa).
Mais de 40 ONG e redes de apoio emitiram pedidos aos doadores, que se reuniram em Genebra, para reforçarem o financiamento e liderança humanitários, exortando que eventuais atrasos terão um elevado custo em vidas.
Desde o início de 2022, mais de meio milhão de pessoas já abandonaram as suas casas em busca de comida e água só na Somália e, em termos regionais, 5,7 milhões de crianças encontram-se em risco de malnutrição aguda e 1,7 milhões em risco severo, diz o comunicado.
O porta-voz da Save the Children para a África Oriental e Sul, Shako Kijala, afirmou que as crianças são sempre as mais afetadas pelas crises alimentares, lembrando: “A malnutrição leva a problemas de crescimento, prejudica o desenvolvimento mental e físico a longo prazo, aumenta o risco de outras doenças e, em última análise, causa a morte.”.
Os trabalhadores de várias ONG na Somália, Etiópia e Quénia louvaram o grande apoio demonstrado para com as vítimas do conflito na Ucrânia, mas lamentaram não assistir ao mesmo nível de urgência face aos milhões de pessoas que enfrentam “o peso de alguns dos maiores desafios comuns globais, incluindo a crise climática”.
Segundo o comunicado, esta “falta de atenção” faz recear que se repitam os atrasos de 2011, que permitiram 260.000 mortes devido à seca e à fome só na Somália, embora em 2017 o governo somali e a comunidade internacional tenham conseguido atuar a tempo de prevenir uma catástrofe semelhante.
Este último caso demonstrou, para a Save the Children, que é possível evitar a fome de forma eficaz a partir de uma “abordagem coletiva de financiamento e programação sem arrependimentos”, e que atrasar a ação apenas “custará mais aos doadores a longo prazo e corre o risco de reverter a última década de investimentos na construção de resiliência” na região.
Esta visão é ecoada por Issack Malim, diretor executivo da Plataforma Nexus, na Somália, que disse ser “crítico que os fundos sejam diretamente canalizados para atores locais que procuram colmatar as causas de raiz da fome numa resposta humanitária integrada, movida pela comunidade”.
Para as ONG, é necessário replicar agora esta estratégia de sucesso, pelo que requisitaram aos doadores mais de 4,4 mil milhões de dólares (4,14 milhões de euros) para fornecer ajuda a cerca de 29,1 milhões de pessoas na Somália, Etiópia e Quénia ao longo de 2022.
Visto que apenas 5% deste valor (61 milhões de euros) foi arrecadado para a Somália até agora e que a reunião patrocinada pela União Europeia nas Nações Unidas foi “despromovida de uma conferência de doadores para uma mesa redonda de alto-nível”, a Save the Children exorta os envolvidos para que comecem “a atuar com um sentido de urgência e tomem ações decisivas” de forma a evitar a deterioração da crise.
Lusa