O ministro da Saúde da Guiné-Bissau, Dionísio Cumba, disse hoje que o sistema de saúde do país “está de joelhos”, depois de anos sem investimento, e que a greve é uma consequência da precariedade em que se encontra.
“O próprio sistema não consegue dar resposta e vem toda uma situação de precariedade e de greve que estamos a viver neste momento”, disse o também médico guineense, em entrevista à Lusa.
Para o ministro, se, por um lado, os “técnicos reclamam melhores condições para prestarem melhor os seus serviços”, por outro lado, o Governo está a “tentar ver como vai poder priorizar e ter recursos para enfrentar a situação do sistema que está completamente de joelhos”.
“Temos aqui o Hospital Nacional Simão Mendes, mas o tipo de assistência é de cuidados primários”, afirmou, salientando que é o hospital de referência nacional, mas não tem especialistas, nem meios de diagnóstico a funcionar normalmente.
“Dá para perceber melhor o nível de sistema de saúde que temos”, afirmou, explicando que a política de reestruturação tem de ser acompanhada de formação de profissionais.
Os sindicatos do setor da saúde da Guiné-Bissau estão em greve há vários meses para reivindicar melhores condições de trabalho e o pagamento de salários aos novos ingressos, que estão há mais de um ano sem receber.
“Já discuti com os sindicatos o que estão a exigir. São meses muito difíceis para alguns que vivem em locais longínquos sem condições económicas, mas exige sacrifícios. É preciso um espírito de sacrifício para todos nós, ao mesmo tempo que pensamos como damos a volta e conseguimos reestruturar tudo em termos de saúde”, disse o ministro.
Dionísio Cumba disse que durante a visita que fez às várias regiões sanitárias do país conversou com os médicos e conseguiu perceber a situação em que vivem, sobretudo nas ilhas.
“Encontrámos médicos em Caravela e em Uno que estão há muitos meses sem salário, alguns não têm salário porque são novos ingressos, mas estão a dar o máximo para corresponder às necessidades da população”, afirmou.
“Isto leva sim a uma reflexão muito profunda. Com esta situação de greve no setor da saúde, que pode, por um lado, ser justificada porque temos um sistema que foi desestruturado ao longo dos anos, nunca a saúde constituiu uma prioridade dos governos que passaram”, disse.
Segundo o médico guineense, o problema não é só na Guiné-Bissau, antes da chegada da pandemia provocada pelo novo coronavírus, o setor da saúde a nível mundial não era uma das prioridades.
“Penso que com as políticas que vão ser implementadas nos próximos anos, a saúde vai passar a ser uma prioridade. Aqui na Guiné-Bissau, com esta proposta que vamos fazer ao Governo para o próximo Orçamento Geral do Estado penso que vai dar uma atenção especial à área da saúde”, salientou.
Em relação ao combate à covid-19 na Guiné-Bissau, o ministro explicou que os esforços estão focados na campanha de vacinação nacional que vai arrancar em breve, mas que ainda está bloqueada devido à falta de verbas.
“Vamos percorrer todas as regiões sanitárias e vacinar porque temos muitas doses no país e o objetivo é atingir 70% da população nacional vacinada. A época da chuva está a terminar e o acesso à população vai ser facilitado”, afirmou.
Aos guineenses, o ministro da Saúde pede para aderirem à vacinação.
“A população tem de ir vacinar-se, é a única forma que temos, já vimos nos países ocidentais onde as pessoas foram vacinadas em massa muitos estão a voltar à normalidade, sem máscara, estão a voltar ao convívio. Temos de alinhar com isso e deixar de ficar sempre retidos nos estados de calamidade, alerta e emergência, a nossa liberdade fica completamente bloqueada”, afirmou.
O ministro disse também que a “vacina não mata ninguém e que não é verdade que as vacinas que estão em África são veneno mandado pelos europeus para exterminar os africanos”, referindo-se a boatos que circulam no país.
Lusa