O ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba, Bruno Rodríguez, disse que não houve uma “explosão social” no país, insistiu que os distúrbios ocorridos foram financiados pelos Estados Unidos e que o país está em condições “totalmente normais”.
“Em 11 de julho não houve explosão social em Cuba, não houve por causa da vontade do povo e do apoio do nosso povo à Revolução e ao seu Governo”, afirmou Bruno Rodriguez numa conferência de imprensa na terça-feira.
Milhares de pessoas manifestaram-se em Havana e noutras cidades do pais no domingo, num movimento inédito, havendo relatos de confrontos, um morto confirmado e centenas de detidos, mas o ministro disse que são “distúrbios em escala muito limitada”, garantindo que “o país está em condições totalmente normais”.
Como o Presidente cubano, Miguel Diaz-Canel, já havia afirmado, Rodriguez também acusou Washington de estar na origem dos distúrbios, por meio da sua política de sanções e uma campanha na internet.
Pouco depois de as manifestações começarem a espalhar-se por todo o país no domingo, no meio a uma grave crise económica e de saúde, o serviço de internet móvel foi desativado.
A empresa estatal das telecomunicações Etecsa não deu qualquer explicação e Rodriquez comparou a falta de internet às “interrupções de eletricidade” e as “óbvias dificuldades evidentes na alimentação” ou no transporte.
“Hoje em dia tem faltado eletricidade que afeta também o funcionamento de redes, dos núcleos, dos servidores e das telecomunicações”, disse, acrescentando posteriormente que “num país onde há uma situação de carência aguda de medicamentos, é verdade que faltam informações, mas também faltam medicamentos”.
Um homem de 36 anos morreu enquanto participava num protesto na segunda-feira no bairro La Güinera, nos arredores de Havana, onde ocorreram confrontos entre manifestantes e a polícia. Várias pessoas ficaram feridas.
O Ministério do Interior cubano confirmou o ocorrido, dizendo que “lamenta a morte”.
Na terça-feira, cerca de 130 pessoas estavam presas ou desaparecidas, de acordo com uma lista de nomes publicada na rede social Twitter pelo movimento de protesto San Isidro.
Entre os detidos estão José Daniel Ferrer, Manuel Cuesta Morua e Berta Soler, três dos principais dissidentes do país, além de Camila Acosta, uma cubana de 28 anos, segundo o jornal madrileno ABC, com quem trabalhou seis meses.
Embora nenhum número oficial tenha sido divulgado sobre as detenções, as famílias tentaram na terça-feira obter informações das esquadras da capital sobre os seus familiares presos, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, exortou hoje ao respeito pelo direito à manifestação em Cuba e voltou a pedir o fim das sanções norte-americanas ao país, para tentar diminuir a crise económica.
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já demonstrou o seu apoio ao povo cubano, enquanto a secretária de Estado adjunta dos EUA para as Américas, Julie Chung, denunciou “a violência e as prisões de manifestantes cubanos, bem como o desaparecimento de ativistas independentes”, e pediu “a sua libertação imediata”.
A União Europeia (UE) apelou às autoridades cubanas para libertarem “imediatamente” todas as pessoas, manifestantes e jornalistas, detidas nos protestos de domingo contra as autoridades de Havana, uma prática que qualificou como “inaceitável”.
Agastados com a crise económica, que agravou a escassez de alimentos e medicamentos e obrigou o Governo a cortar a eletricidade durante várias horas por dia, milhares de cubanos saíram às ruas espontaneamente no domingo, em dezenas de cidades do país, aos gritos de “Temos fome”, “Liberdade” e “Abaixo a Ditadura”.
Trata-se de uma mobilização sem precedentes em Cuba onde as únicas reuniões autorizadas são geralmente as do Partido Comunista Cubano (PCC, partido único), tendo as forças de segurança procedido a dezenas de detenções e se envolvido em confrontos com manifestantes.
As últimas manifestações desse tipo em Havana aconteceram há quase 30 anos, em 1994.
Lusa