Milhares de pessoas que fugiram de Goma durante a erupção do vulcão Nyiragongo, na República Democrática do Congo (RDCongo), dividem-se entre a alegria de voltar e o medo de um futuro incerto na cidade mais afetada pela lava.
Hoje, centenas de pessoas encheram 34 autocarros e uma dúzia de camiões a caminho de Sake, a 26 quilómetros de Goma, e a incerteza sobre o que irão encontrar era o ponto comum dos vários testemunhos recolhidos pela agência France-Presse.
“Mesmo que eu volte para Goma, onde vou dormir? Todos os meus pertences foram reduzidos a cinzas”, lamentou Beatrice Assumani, mãe de quatro filhos que, de lágrimas nos olhos, contou que perdeu tudo por causa da lava.
“É bom chegar a Goma, mas dormir onde e comer o quê?”, questionou, por sua vez, Esperance Léonard, do mesmo distrito de Buhene a norte de Goma, que foi atingido pela lava expelida pelo vulcão.
As autoridades, apesar do receio dos cidadãos, mantêm o otimismo sobre a recuperação da região: “Estimamos que cerca de 17 habitantes de Goma já vão dormir na sua cidade esta noite”, disse o coordenador da proteção civil no Kivu do Norte, Joseph Makundi, explicando que está no local a “registar as vítimas” para lhes prestar ajuda.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) alertou para o “risco de cólera em Sake”, uma cidade com 65 mil habitantes, apontando que “pontos de água e as infraestruturas são limitados e estão agora sobrecarregados por mais de 120.000 pessoas que fugiram de Goma” e refugiaram-se nesta cidade, em casa de amigos ou familiares.
Dos cerca de 450.000 congoleses deslocados pela erupção e atividade sísmica do Nyiragongo, mais de 160.000 já tinham regressado a Goma em 02 de junho, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Na segunda-feira, o primeiro-ministro congolês, Jean-Michel Sama Lukonde, anunciou o regresso gradual de milhares de pessoas deslocadas, para as quais “um hospital militar móvel bem equipado, capaz de prestar cuidados de apoio às estruturas de saúde existentes” será colocado à disposição.
No domingo, o diretor do Observatório Vulcanológico de Goma, Celestin Kasereka Mahinda, disse em declarações à agência Efe que “não há risco, por enquanto” de o Nyiragongo voltar a entrar em erupção, mas os especialistas continuam a “acompanhar de perto a situação”.
O Nyiragongo, um dos vulcões mais ativos do mundo, entrou em erupção inesperadamente em 22 de maio, após meses sem supervisão científica por parte do Observatório devido à falta de fundos, e devastou a periferia de Goma, capital da província do Kivu Norte, localizada a pouco mais de 10 quilómetros do vulcão.
Lusa