O acesso dos utilizadores de cartões multicaixa aos Caixas Automáticos (ATMs) está cada vez mais difícil, em Luanda, com registo diário de enchentes ao redor dos bancos comerciais, numa altura em que faltam 14 dias para a celebração do Natal.
A situação das filas já se arrasta desde o começo do confinamento social, em Março último, devido à pandemia da Covid-19, mas um novo factor é agora apontado, pelos utilizadores, como suposta causa do aumento da pressão sobre os ATMs: a escassez de dinheiro.
Nos últimos dias, é notória, na zona urbana e na periferia da capital do país, a presença de centenas de cidadãos em frente aos bancos comerciais, desde as primeiras horas da manhã até ao “cair” da tarde, à espera da vez e de sorte para consultar saldo, levantar ou transferir dinheiro.
Por causa dessa situação, utentes de cartões multicaixa e funcionários bancários entram, quase que permanentemente, em rota de “colisão”, pela ausência de valores em vários caixas automáticos ou, em casos mais específicos, pelas enchentes para aceder aos balcões.
Os utilizadores afirmam que as filas nos multicaixas se devem à falta ou à insuficiência de dinheiro nos ATMs, mas os bancos desmentem que haja, actualmente, qualquer tipo de falta de liquidez.
Segundo utentes ouvidos pela ANGOP, as agências bancárias estão incapazes de responder à demanda, nos balcões e nos ATM, que registam mais pressão com o aproximar da quadra festiva.
Dados da Empresa Interbancária de Serviços S.A.R.L (EMIS), responsável pelo serviço da Rede Multicaixa em Angola, apontam para a existência de mais de seis milhões de cartões multicaixa, para cerca de três mil máquinas (ATM) em todo o território nacional.
Diariamente, vários milhões de kwanzas são processados nos ATMs, sob supervisão da EMIS, que controla 650 milhões de operações financeiras por ano e movimenta, mensalmente, pelo menos 950 mil milhões de kwanzas, incluindo no serviço Multicaixa Express.
Só em 2019, por exemplo, as movimentações efectuadas nas Caixas Automáticas (ATMs) estimaram-se em cerca de 157,3 milhões de kwanzas, números que demonstram a importância desses serviços para os utilizadores do país, em particular os de Luanda.
Apesar dos números, os utentes de cartões consideram fundamental que os bancos reforcem os carregamentos das máquinas, atendendo à procura crescente de dinheiro por causa do Natal.
No entender de Kambinga Pascoal, há pouca oferta de ATMs no país e “falta de liquidez” em muitos bancos comerciais, nos últimos dias, originando, por isso, grandes enchentes de clientes.
O cidadão entende que o desconhecimento dos serviços electrónicos de pagamentos, disponibilizados pelos bancos, é outra das causas da corrida crescente para os ATMs.
Ângela Makiade, outra utilizadora do serviço de multicaixa, reforça que a questão das enchentes é “provocada pela falta de liquidez”, fundamentalmente porque as pessoas com dinheiro à mão não depositam, deixando os bancos sem dinheiro físico para os ATMs.
“Os bancos dependem do dinheiro dos clientes, sem os quais ficam de mãos atadas, sem poder fazer nada”, fundamenta a cidadã, que defende a redução do valor a levantar por cartão ou outro mecanismo que permita a todos ter a oportunidade de levantar dinheiro.
O assunto da escassez de dinheiro é do conhecimento dos bancos comerciais, que reiteram a existência de liquidez, fundamentando que as enchentes podem se dever ao facto de os clientes irem mais vezes aos caixas, por causa do pagamento dos salários e dos subsídios de Natal.
A propósito deste tema, vários bancos contactados pela ANGOP negaram-se a gravar entrevista para dar a sua versão dos factos, mas reiteraram que continuam a abastecer, diariamente, as caixas automáticas com valores suficientes para os clientes.
“Todos os dias, os ATMs do Banco Yetu são carregados e não registam ruptura de numerário”, confirmou um gerente deste estabelecimento bancário, em regime de anonimato.
Para si, as enchentes nas máquinas automáticas tem a ver com o período de festas, e a falta de cédulas nos ATM com o facto de os utentes terem mais valores disponíveis.
De igual modo, a Associação dos Bancos (Abanc) também afasta a hipótese de as enchentes nos multicaixas estarem ligadas à falta de dinheiro.
Conforme o seu presidente, Mário Nascimento, não inexiste qualquer relação entre uma coisa e outra, porque a Abanc e o Banco Nacional de Angola recomendam os bancos a efectuarem, sistematicamente, o carregamento dos ATMs.
“Esta tem sido a intervenção da Abanc, embora desconheçamos profundamente o fenómeno”, avançou o responsável, em declarações à ANGOP.
Diz não crer que a escassez tenha a ver com limitações impostas pelo BNA aos bancos, que têm a responsabilidade de carregar e gerir ATM.
“Não cremos que esta situação seja por falta de liquidez, porquanto a eventual falta de liquidez não se verifica em todo o sistema bancário, é um problema de um ou dois bancos em particular”, sublinha.
O líder associativo relaciona as enchentes com a época de pico, como são os períodos de pagamentos de salários, e em situações muito concretas, em que existe um afluxo enorme de clientes para os ATM.
“É um movimento que não está a acompanhar o ritmo de carregamentos de levantamentos”, reitera.
A propósito das enchentes, o Banco Central recomendou que os clientes adiram às tecnologias, a fim de evitarem filas “para a realização de pagamentos de compras e serviços, transferências e consultas de saldos que não requerem uma ida ao balcão de um banco comercial ou a um ATM.
Num recente Instrutivo dirigido aos bancos comerciais, o BNA aconselha a utilização preferencial desses meios alternativos, nomeadamente o cartão Multicaixa, o Multicaixa Express, bem como as soluções de internet e mobile banking dos bancos comerciais.
O Banco Central estipula que, daqui a 30 dias, o valor máximo a levantar nos multicaixas passa a ser de 60 mil kwanzas, contra os 50 mil permitidos actualmente.
Para desafogar a pressão sobre os bancos, o Governo determinou que as agências bancárias aumentem o período de trabalho, entre 21 e 31 de Dezembro, até às 16h00, no âmbito da actualização do Decreto Presidencial sobre a Situação de Calamidade Pública, tornada pública na última quinta-feira.