A Etiópia está agora “em guerra” contra a região dissidente de Tigré (norte), onde o governo lançou uma operação militar na quarta-feira, informou um chefe do exército nesta quinta-feira (5).
A escalada verbal e militar, assim como as informações sobre os combates no oeste do Tigré, elevam os temores sobre um longo conflito, que pode ameaçar a já frágil estabilidade deste país com mais de 100 milhões de habitantes.
“Nosso país entrou numa guerra que não havia previsto. Esta guerra é vergonhosa, é uma tolice”, disse o general Berhanu Jula, subchefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Etiópia, durante uma conferência de imprensa em Adis Abeba.
“Procuramos evitar que a guerra chegue ao centro do país” e se limite ao Tigré, acrescentou.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, anunciou uma operação militar contra a região do Tigré, cujas autoridades tinham sido acusadas por ele de ter atacado uma base militar.
Vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2019, Abiy Ahmed tenta restaurar a autoridade do governo federal nesta região liderada pela Frente de Libertação do Povo Tigré (TPLF), que o desafia há meses.
A TPLF alegou que esses ataques foram inventados pelo governo para justificar a intervenção do exército.
“O que foi desencadeado contra nós é claramente uma guerra, uma invasão”, declarou o presidente do Tigré, Debretsion Gebremichael, em conferência de imprensa.
“É uma guerra que travamos para preservar a nossa existência”, acrescentou, especificando que os combates continuam no oeste da região e que o exército concentra tropas nas fronteiras das regiões de Amhara e Afar, a sul e a leste do Tigré, respectivamente.
A tensão aumentou nos últimos dias entre Adis Abeba e Tigré, que não reconhece a autoridade do estado federal desde que as eleições nacionais que deveriam ter sido realizadas em agosto foram adiadas.
A minoria Tigré (cerca de 6% da população) dominou a política nacional por quase três décadas, até a chegada ao poder de Abiy Ahmed em 2018, o primeiro líder da etnia oromo, a mais importante do país.
A TPLF acusa Abiy Ahmed de marginalizar progressivamente a minoria Tigré na coligação que está no poder, a qual abandonou, posicionando-se de fato na oposição.