Taylor Morales respondia a uma prova quando ouviu os tiros. Uma colega sangrava no meio da sala de sua escola em Parkland, Flórida. Dois anos depois, ele dirigiu por quatro horas para levar um amigo até o local de votação nas eleições dos Estados Unidos.
Alguns são cautelosos nas expectativas, mas outros acreditam em uma participação recorde entre os jovens da Flórida, um estado chave com resultados frequentemente apertados.
Ao recordar a longa viagem até um centro de votação, a jovem de 20 anos relata: “Ele me dizia, ‘Taylor, você está louca’. E eu respondi: ‘A Flórida é um estado crucial e isto é muito importante. Cada voto conta'”.
Morales e seu amigo votaram no democrata Joe Biden, que “tem um plano preparado para ajudar na reforma sobre a venda de armas”, segundo ela.
Nascidos a partir de 1997, os mais “velhos” da geração Z (conhecidos como “GenZers” ou “Zoomers”) já tem 23 anos e muitos deles estão votando para presidente pela primeira vez.
Nos Estados Unidos, esta é uma geração marcada não apenas por ter crescido com as redes sociais, mas também por ter participado em várias simulações de tiroteios nas escolas.
Por este motivo, Morales pensou, como muitos outros alunos, que os barulhos de tiros eram outra simulação, até que viu o sangue da amiga no chão. “Dois estudantes fizeram um torniquete que salvou a vida dela”, conta.
O tiroteio aconteceu em 14 de fevereiro de 2018, quando um homem abriu fogo com um fuzil na escola Marjory Stoneman Douglas de Parkland, ao norte de Miami, e matou 17 pessoas.
Três dias depois, a raiva e a dor resultaram em um movimento contrário às armas que se propagou entre estudantes de todo o país.
“Não quero que isto aconteça com mais ninguém. Não quero que as mortes das pessoas tenham acontecido em vão. Quero que façam a diferença”, declarou Taylor Morales à AFP.
Agora ela estuda em uma universidade e Fort Myers e atua na organização antiarmas Change The Ref.
– Muitos estão furiosos –
Para Alyssa Ackbar, o ativismo contra as armas avança nas interseções entre os direitos dos homossexuais e dos imigrantes, saúde pública, racismo e violência armada.
“Nossa geração, inclusive os que não são muito comprometidos, estão a par dor problemas atuais e sabem que é importante votar”.
Ela tem 19 anos, estuda na Universidade do Estado da Flórida em Tallahassee, a capital, e dirige a unidade estadual da “March For Our Lives” (Marcha por Nossas Vidas).
O movimento nasceu como resposta ao tiroteio de Parkland para exigir leis que limitem o acesso às armas de fogo, que são vendidas e compradas quase sem restrições no país.
De acordo com uma análise da Universidade Tufts de Massachusetts, o número de votos por correio ou votos antecipados de eleitores de 18 a 29 anos é muito maior agora que em 2016 em 13 estados chave.
Em 2016, a sete dias das eleições, os votos dos jovens da Flórida representavam 5% dos votos antecipados e por correios. Agora, representam 13%.
“A participação dos jovens nas eleições deste ano está em níveis históricos, pois uma nova geração de jovens busca impulsionar a mudança política sobre temas que geram preocupação”, afirma o estudo
Daniel Smith, professor de Ciências Políticas da Universidade da Flórida, é mais cauteloso e calcula que 40% das pessoas de 18 a 23 anos já votaram na Flórida, índice que alcança 70% entre os maiores de 65.
“Se a sua estratégia de voto é a participação destes eleitores, esta é uma proposta arriscada”, adverte.
Todas as pesquisas mostram que os GenZers e millennials mais jovens apoiam Biden em maior número que o presidente, Donald Trump, que busca a reeleição.
“Muitos completaram 18 este ano e estão furiosos com os acontecimentos atuais”, afirma Ackbar.