Vinte e nove milhões de mulheres e meninas são vítimas de escravatura moderna, desde trabalho escravo a casamentos forçados, servidão por dívidas e servidão doméstica, segundo um relatório das Nações Unidas.
Citada pela agência noticiosa Associated Press (AP), Grace Forrest, cofundadora da organização contra a escravatura Walk Free, disse na sexta-feira que tal significa que uma em cada 130 mulheres e raparigas está atualmente a viver numa situação de escravatura moderna, mais do que a população da Austrália.
“A realidade é que há hoje mais pessoas a viver em situação de escravatura do que em qualquer outra altura da história da humanidade”, afirmou Grace Forrest numa conferência de imprensa das Nações Unidas.
A Walk Free define a escravatura moderna como “a supressão sistemática das liberdades de uma pessoa, em que uma pessoa é explorada por outra para benefício pessoal ou financeiro desta última”.
Segundo Forrest, a estimativa global de que uma em cada 130 mulheres e raparigas são vítimas de escravatura moderna baseia-se nos levantamentos efetuados pela Walk Free, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), ambas agências da Organização das Nações Unidas (ONU).
“O que este relatório demonstrou é que o género representa uma desvantagem para as raparigas desde a conceção, ao longo de toda a sua vida”, disse.
De acordo com o relatório, intitulado “Stacked Odds” (“Em desvantagem”), as mulheres representam 99% de todas as vítimas de exploração sexual forçada, 84% das vítimas totais de casamentos forçados e 58% das vítimas de trabalho forçado.
Para Grace Forrest, a face da escravatura moderna “mudou radicalmente”.
“Estamos a assistir à normalização da exploração na nossa economia, nas cadeias transnacionais de abastecimento e também nas rotas das migrações”, disse, salientando que “os mais vulneráveis se tornaram ainda mais vítimas desta prática da escravatura moderna devido à covid-19”.
Segundo referiu, a estimativa de mulheres e raparigas sujeitas a estas novas formas de escravatura é conservadora, porque não tem em conta o que aconteceu durante a pandemia, em que se registaram “significativos aumentos das situações de casamentos forçados e envolvendo menores de idade e dos casos de exploração no trabalho em todo o mundo”.
A cofundadora da Walk Free disse que esta organização e o programa das Nações Unidas “Every Woman Every Child” vão lançar uma campanha global para exigir a tomada de medidas para pôr fim à escravatura moderna.
Conforme adiantou, a campanha reclama o fim do casamento forçado e de menores, que em 136 países continua por criminalizar, e exige a eliminação dos sistemas legalizados de exploração, como o ‘Kafala’, que prevê que os empregadores dos trabalhadores migrantes sejam responsáveis pelo respetivo visto e estatuto legal, enquanto durar o contrato de trabalho.
A campanha defende ainda uma maior transparência e responsabilização por parte das multinacionais.
“Sabemos que as mulheres e raparigas estão a ser vítimas de níveis sem precedentes de exploração e de trabalho forçado em cadeias de abastecimento dos produtos que compramos e usamos todos os dias, desde a roupa ao café e tecnologia”, disse Forrest.