O Presidente da República, João Lourenço, afirmou hoje que “não há culpados” do adiamento das eleições autárquicas no país, salientando que tanto o executivo como a Assembleia Nacional estão a trabalhar no sentido de reunir condições para que se realizem.
Na terça-feira, os membros do Conselho da República consideraram, na sua maioria, que não há condições para realizar as primeiras eleições autárquicas do país, uma posição criticada pelo maior partido da oposição, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) que atribuiu a decisão ao receio de uma derrota por parte do partido no poder (MPLA).
Questionado sobre a posição assumida por alguns conselheiros da República que discordam do adiamento, João Lourenço afirmou que “o que conta são as conclusões a que esse órgão chega”, independentemente da posição individual dos seus integrantes, e salientou que o Conselho considerou não haver condições para a realização das eleições autárquicas este ano por não terem sido concluídas algumas condições prévias, estando por concluir o pacote legislativo autárquico.
O Presidente da República respondia aos jornalistas após a inauguração do novo hospital do Bié, batizado com o nome do médico canadiano missionário Walter Strangway, que trabalhou durante 39 anos em Angola no início do século passado.
O chefe do Estado angolano sublinhou que a Assembleia Nacional fez “um esforço bastante grande” em aprovar parte do pacote legislativo autárquico, mas salientou que só com aprovação de todas as leis é que o titular do poder executivo estará em condições de auscultar as forças políticas e chegar à definição de uma data para convocar as primeiras eleições autárquicas do país, que estavam previstas para 2020.
“Tudo o resto não passa de acusações mútuas, de procurar culpados, mas neste processo não há culpados. Todos estão a trabalhar, quer o executivo, quer o parlamento, no sentido de reunir as tais condições que tornarão possível a realização das eleições”, destacou João Lourenço.
Questionado sobre informações que dão conta de que se está a organizar uma frente de partidos da oposição para enfrentar o MPLA nas próximas eleições gerais, em 2022, João Lourenço considerou que “se isso é reconhecimento de que individualmente os partidos políticos, concorrendo sozinhos, não têm a capacidade de enfrentar o adversário (…), estão no direito de chamar os amigos e os vizinhos para ajudar a derrotar o adversário”.
O Presidente afirmou ainda, após a inauguração do novo hospital, com 230 camas e prestação de 20 serviços especializados, que o executivo angolano está apostado em continuar a fazer investimentos não só em infraestruturas, como na formação de pessoal médico e paramédico para “minimizar o sofrimento” da população.
“Trabalhamos no sentido de procurar reduzir, ou eliminar, as juntas médicas que, ao longo das décadas, o país conheceu”, disse, lembrando que foram enviados para o exterior “milhares de angolanos para se tratarem, o que representa uma despesa bastante grande e que o governo quer inverter”.
“Os recursos avultados que temos vindo a gastar em hospitais de referência fora de Angola vamos gastá-los aqui, vamos investir em Angola em hospitais de referência do género deste e outros”, continuou.
Joao Lourenço disse também que o governo pretendia inaugurar em Luanda este ano “pelo menos quatro importantes unidades hospitalares”, o que “provavelmente” não irá ser feito devido à pandemia de covid-19, prometendo fazê-lo no próximo ano.
No mesmo dia em que o chefe do executivo angolano se deslocou ao Bié realizaram-se, em Luanda, quatro manifestações, entre as quais uma convocada pelo Sindicato Nacional dos Médicos de Angola, para homenagear o pediatra Sílvio Dala, que morreu no âmbito de uma intervenção policial em circunstâncias suspeitas e ainda não totalmente esclarecidas.
O Presidente da República não foi questionado sobre o assunto.