As fortes chuvas que caem desde a última madrugada na Praia provocaram a morte de um bebé, várias cheias, desmoronamentos e destruição de viaturas e edifícios, segundo a proteção civil.
Ao final da manhã várias ruas permaneciam intransitáveis, sobretudo nas zonas mais baixas da cidade, com centenas de populares a concentrarem-se no exterior, com estruturas e vias de comunicação em risco.
Segundo o presidente do Serviço Nacional de Proteção Civil e Bombeiros, Renaldo Rodrigues, numa das enxurradas morreu um bebé de seis meses, que se encontrava em casa com a mãe e um irmão.
As cheias afetam os bairros do Paiol, Lém Cachorro, Calabaceira e Pensamento, na Praia, mas também noutros pontos da ilha de Santiago.
“Não diria que a situação é caótica, mas que inspira alguns cuidados. Temos dezenas de pessoas em zonas de risco, em várias localidades, que têm de ser realojadas de imediato”, descreveu à Lusa Renaldo Rodrigues.
Numa ronda feita pela Lusa durante a manhã, os relatos populares foram coincidentes com um temporal nunca visto em largos anos na capital cabo-verdiana.
“Na Praia nunca tinha visto, no interior de Santiago sim”, explicou José Rodrigues, 40 anos.
“Isto põe a nu a falta de planificação na Praia”, criticou.
Na mesma linha, José do Canto, de 58 anos, confessava um cenário inédito ao observar a destruição na Praia: “Muitas casas derrubadas, muitas pessoas com problemas para tirar a água das casas. Nunca vi um temporal destes”.
Entretanto, algumas embaixadas apelaram aos respetivos cidadãos que se encontram na Praia para se protegerem nas próximas horas, evitando deslocações desnecessárias.
O arquipélago de Cabo Verde está desde a última madrugada sob a influência de uma onda tropical que poderá transformar-se em depressão tropical, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica (INMG).
As previsões apontam que a onda tropical atinja o país até segunda-feira, estando associada a uma larga área de convecção produzindo aguaceiros e trovoada.
O instituto cabo-verdiano adiantou que o sistema está localizado junto à costa da Guiné Bissau, desloca-se com uma velocidade de 30 km/h e tem cerca de 70% de probabilidade de se transformar em uma depressão tropical.
“Durante a sua passagem condicionará o estado do tempo nas ilhas”, referiu o INMG, que prevê ainda chuvas de intensidade variável e possibilidade de trovoadas, intensificação do vento e agravamento significativo do estado do mar.
“O Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, INMG fará o acompanhamento permanente do sistema, a sua vigilância e monitorização, atualizando as informações do estado do tempo, de forma regular e contínua”, garantiu a entidade cabo-verdiana.
Já na passada segunda-feira e terça-feira uma depressão tropical aproximou-se de Cabo Verde e transformou-se em tempestade tropical, com vento e chuvas fortes, sobretudo nas ilhas a norte do arquipélago.
Na quarta-feira, o ministro da Agricultura cabo-verdiano, Gilberto Silva, disse que as chuvas que caíram no início da semana em todo o arquipélago já garantem pasto, mas afirmou que ainda é preciso mais para produção de milho e feijões e recarga dos lençóis freáticos.
Depois de três anos consecutivos de seca, com chuvas irregulares e insuficientes, desde meados de julho que a chuva voltou a cair com alguma frequência em algumas ilhas de Cabo Verde.