Segunda-feira, 23 de Dezembro, 2024

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Caso IURD: Governo e deputados procuram solução para evitar conflito político e diplomático com Brasil

O governo angolano e deputados a Assembleia Nacional debatem hoje a situação de conflito interno da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola (IURD), com objetivo de encontrar uma solução que evite um conflito político e diplomático com o Brasil, informaram fontes do governo.

A comitiva do executivo a chefiada pela ministra do Estado para os Assuntos Sociais, Carolina Cerqueira, encontra-se reunida a porta fechada com os deputados da Assembleia Nacional.

De acordo com fontes governamentais, o executivo procura encontrar uma solução não apenas do ponto de vista religioso mas também que evite um possível conflito político e diplomático com o Brasil. Mas alguns deputados entrevistados pela Rádio Nacional de Angola, são de opinião que este é um assunto da justiça.

Para Miaela Weba a PGR não está a cumprir o seu papel.

“Não é aceitável que cidadãos estrangeiros venham a Angola, violem as nossas normas, nomeadamente a nossa constituição e as nossas leis e saiam impunes, portanto acho que os órgãos judiciais é que deviam decidir e não propriamente o executivo ou o legislativo. Portanto, a PGR não está a cumprir o seu papel”, disse.

Para o deputado Mendes Bartolomeu “a PGR deveria imediatamente assumir o seu papel, investigar para depois então submeter as denúncias aos tribunais, é aí onde existe a razão da questão”, disse salientando que na sua opinião “o que nós esperamos é que os deputados possam apenas dar um conselho, ouvir em primeiro lugar aquilo que executivo trouxer, mas que não haverá nenhuma decisão porque não é uma matéria que tem a ver com Assembleia Nacional”.

Já o deputado Lindo Bernardo Tito defende o cancelamento da licença da IURD em Angola.

“Quando uma determinada confissão religiosa viola os direitos fundamentais, a vasectomia é uma clara violação dos direitos fundamentais. A outra questão é também a existência de indícios relativamente a prática de atos de corrupção, de branqueamento de capitais, de lavagem de dinheiro, tudo isso concorre para o cancelamento da atividade da IURD. Quero que essa reunião traga ao país uma decisão”, reforçou.

O conflito interno da IURD em Angola tem provocado tensões entre os dois países, com envolvimento direto de ambos os governos.

O embaixador do Brasil em Angola, Paulino Franco de Carvalho, afirmou neste fim-de-semana, em entrevista à Lusa, que o presidente angolano garantiu ao seu homólogo brasileiro que o diferendo na Igreja Universal do Reino de Deus terá o “tratamento adequado” e reiterou a “excelência” das relações entre os dois países

O conflito na IURD em Angola, que se arrasta desde novembro do ano passado, agudizou-se no mês passado com a tomada de vários templos por parte de bispos e pastores angolanos da Comissão de Reforma da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que acusam a ala brasileira de crimes e práticas contrárias à religião.

Segundo a Comissão de Reforma, entre os dias 22 e 23 de junho deste ano, os pastores “imbuídos de espírito de fé e bravura decidiram pôr fim às más práticas perpetradas pelo Senhor bispo Honorilton Gonçalves, nomeadamente racismo, arrogância, abuso de poder e de confiança, que culminou com o resgate efetivo dos templos e locais de culto nas 18 províncias de Angola”.

Os angolanos acusam os brasileiros de irregularidades e práticas contrárias à religião como a vasectomia, racismo e discriminação e romperam, em novembro do ano passado, com a representação brasileira em Angola encabeçada pelo bispo Honorilton Gonçalves.

Em dezembro de 2019, a Procuradoria-Geral da República angolana instaurou dois processos-crime contra a IURD, tendo como base as denúncias feitas por pelo menos 300 pastores angolanos, subscritores do documento.

A IURD, fundada por Edir Macedo em 1977, tem acumulado polémicas um pouco por todo o mundo, incluindo o envolvimento numa alegada rede ilegal de adoções em Portugal, e noutros países lusófonos, como São Tomé e Príncipe, onde os fiéis se revoltaram contra a detenção de um pastor são-tomense num protesto onde foi morto um jovem.

A organização religiosa já esteve na mira da justiça de vários países, além do Brasil, onde Edir Macedo, que construiu um verdadeiro império empresarial e chegou a ser considerado um dos pastores evangélicos mais ricos do país, foi preso, em 1992, sob acusações de charlatanismo e estelionato (burla), que foram mais tarde anuladas.

Em Angola, a IURD, em 2012, já enfrentou um processo na justiça, no qual seis líderes e responsáveis da igreja foram acusados de 10 crimes de homicídio voluntário, pela morte de 10 pessoas, na denominada vigília “Dia do Fim”, em Luanda.

O ato, que resultou ainda no ferimento de mais de 100 fiéis, levou dezenas de milhares de pessoas a concentrarem-se no interior e exterior do Estádio da Cidadela, em Luanda, ultrapassando largamente a lotação do recinto.

Face ao caso, a IURD viu a sua atividade suspensa por 60 dias, e em 2015, o Tribunal Provincial de Luanda absolveu os arguidos por não ter elementos suficientes para afirmar com juízo de certeza que os mesmos terão cometido os crimes dos quais foram acusados e pronunciados.

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