As autoridades chinesas assumiram hoje controlo do edifício que hospedou o consulado norte-americano na cidade chinesa de Chengdu, sudoeste da China, numa altura de crescentes tensões entre as duas maiores economias do mundo.
O regime chinês ordenou que a missão fosse encerrada, em retaliação pela decisão dos EUA de fechar o consulado chinês em Houston, no estado do Texas.
O encerramento dos consulados marca uma escalada significativa nas múltiplas disputas entre os dois países, que vão do comércio e tecnologia aos direitos humanos ou soberania do Mar do Sul da China.
O Departamento de Estado norte-americano expressou “deceção” e lembrou que o consulado “está no centro das (…) relações com o povo do oeste da China, incluindo o Tibete, há 35 anos”.
“Estamos dececionados com a decisão do Partido Comunista Chinês e esforçar-nos-emos para continuar a alcançar as pessoas nesta importante região, por meio de nossos outros postos na China”, lê-se no comunicado.
O ministério dos Negócios Estrangeiros da China emitiu um breve aviso a afirmar que as “autoridades competentes” entraram pela entrada da frente e assumiram as instalações, depois de os diplomatas norte-americanos terem saído.
No dia anterior, o ministério dos Negócios Estrangeiros da China emitiu uma declaração de protesto sobre o que chamou de invasão ao seu consulado de Houston, considerando que violou a Convenção de Viena sobre Relações Consulares e a Convenção Consular China-EUA.
“O lado chinês lamenta e opõe-se firmemente à decisão dos dos EUA de entrar à força no Consulado Geral da China em Houston, e apresentou representações solenes. A China adotará retaliações legítimas e necessárias”, de acordo com o comunicado.
A China mantém consulados em São Francisco, Los Angeles, Chicago e Nova Iorque, além da embaixada em Washington.
Os EUA têm outros quatro consulados na China e uma embaixada em Pequim, assegurando paridade em termos de missões diplomáticas.
O consulado de Chengdu ganhou destaque em 2012, quando o chefe da polícia na cidade vizinha de Chongqing se refugiu na missão diplomática, precipitando a queda do líder em ascensão de Chongqing, Bo Xilai, no maior escândalo político na China em décadas.
Também foi anfitrião do ex-vice-Presidente norte-americano Joe Biden durante uma visita à China, quando o atual candidato à presidência pelo Partido Democrata acompanhou o então vice-presidente da China e agora chefe de Estado, Xi Jinping, numa deslocação à cidade.
A bandeira norte-americana foi retirada da missão de Chengdu às 06:18 na China (23:18 de domingo em Lisboa), segundo a emissora estatal chinesa CCTV.
A polícia fechou uma área de dois a três quarteirões ao redor do consulado, cortando praticamente qualquer vista da propriedade, incluindo a bandeira.
O encerramento iminente do consulado atraiu um fluxo constante de espetadores durante o fim de semana, levando a polícia a fechar a rua e a calçada em frente ao consulado e a instalar barreiras de metal ao longo da calçada, do outro lado da estrada arborizada.
Polícias uniformizados e à paisana vigiavam os dois lados das barreiras após incidentes dispersos, incluindo um homem que atirou fogo de artifício.
Um outro homem que exibia um cartaz no final do domingo, que designou de carta aberta ao Governo chinês, foi rapidamente levado pela polícia.
Os EUA alegaram que o consulado de Houston era um ninho de espiões chineses, que tentaram roubar dados de instalações no Texas, incluindo o sistema médico do Texas A&M e o MD Anderson Cancer Center, da Universidade do Texas, em Houston.
A China disse que as alegações são uma “calúnia maliciosa”.