O Fundo Monetário Internacional (FMI) piorou hoje as previsões macroeconómicas para a recessão esperada em 2020, apontando agora para uma queda de 4,9% da economia mundial, depois de ter estimado uma recessão de 3% em abril.
“A pandemia de covid-19 teve um impacto mais negativo na atividade na primeira metade de 2020 do que o antecipado, e está projetado que a recuperação seja mais gradual do que anteriormente previsto. Em 2021, o crescimento mundial está projetado nos 5,4%”, menos 0,4 pontos percentuais que nas previsões de abril, pode ler-se na atualização das Perspetivas Económicas Mundiais hoje divulgadas pelo FMI.
O FMI destaca que “o impacto adverso em famílias de baixos rendimentos é particularmente agudo, comprometendo o progresso significativo feito na redução da pobreza extrema no mundo desde os anos 1990”.
“As projeções de consumo privado mais fraco refletem uma combinação de um grande choque adverso na procura agregada devido ao distanciamento social e confinamento, bem como um aumento das poupanças. Para além disso, o investimento deverá ser moderado, dado que as empresas adiam as despesas de capital, devido à maior incerteza”, aponta o FMI.
Em 2021, “é esperado que o consumo se fortaleça gradualmente (…) e também é esperado que o investimento cresça, mas permaneça moderado”, e o PIB mundial deverá exceder o de 2019.
No entanto, a instituição liderada por Kristalina Georgieva assinala que as previsões hoje apresentadas contêm e são realizadas em contexto de incerteza, dependendo “da profundidade da contração no segundo trimestre de 2020 (para o qual ainda não há dados completos), bem como da magnitude e persistência do choque adverso”.
No grupo das economias avançadas, na qual se inclui Portugal (apesar de não haver referências explícitas ao país) é esperada uma recessão de 8,0% em 2020, uma quebra maior (1,9 pontos percentuais) do que a esperada em abril pelo FMI, dado que “parece ter havido um impacto maior na atividade na primeira parte do ano do que o esperado, com sinais de distanciamento voluntário ainda antes da imposição de confinamentos”.
Para 2021, “a taxa de crescimento das economias avançadas deverá fortalecer-se para 4,8%, deixando o PIB de 2021 para esse grupo 4% abaixo do nível de 2019”.
Nas economias em desenvolvimento, a queda em 2020 é agora projetada pelo FMI como devendo ser de 3%, “dois pontos percentuais abaixo das Perspetivas Económicas Mundiais de abril”, com a recessão nos países de baixos rendimentos estimada em 1%.
O FMI estima ainda que o comércio mundial “sofrerá uma contração profunda este ano, de 11,9%, refletindo consideravelmente o enfraquecimento da procura para bens e serviços, incluindo o turismo”, mas deverá recuperar 8% em 2021.
Em termos de inflação, as projeções foram revistas em baixa, com maiores cortes em 2020 (e recuperação em 2021) e para as economias avançadas, o que “globalmente reflete uma combinação de menor atividade e preços mais baixos das matérias-primas, apesar de nalguns casos ser compensada pelo efeito das taxas de câmbio e depreciação nos preços de importação”.
Os principais riscos identificados pelo FMI para a sua previsão, tanto positivos como negativos, estão relacionados quer com a possibilidade de aceleração de tratamentos para a covid-19, quer com a possibilidade do surgimento de novos surtos da doença, que podem acelerar ou retardar, respetivamente, a atividade económica.
O FMI aponta que nos países com “elevados níveis de dívida”, como é o caso de Portugal, esses níveis “poderiam constranger a profundidade de mais apoio orçamental – e colocarão um desafio importante a médio e longo prazo para muitos países”.
A instituição apela ainda ao recurso ao multilateralismo no combate à pandemia de covid-19, devendo os decisores políticos “cooperar para abordar os problemas económicos associados a tensões comerciais e tecnológicas, bem como as falhas no sistema multilateral de comércio, baseado em regras”.